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domingo, 7 de abril de 2013

Entrevista com Dragos Stanica, Técnico de Levantamento de Peso Olímpico

Dragos Stanica é o profissional mais experiente e qualificado de Levantamento de Peso trabalhando no Rio de Janeiro e no Brasil. Visando os Jogos Olímpicos de 2016, ele nos conta em sua entrevista a dura realidade da modalidade.


ER: Você praticou diversos esportes quando era criança. Por que se especializou no Levantamento de Peso?
DS: Foi o esporte que mais me desafiou. Tinha facilidade em correr ou praticar lutas mas não conseguia fazer arranque! Apesar de que não reparei nisso rápido. A emoção, tensão e a adrenalina que o treino me davam me determinou continuar e me especializar.

ER: Por que o Levantamento de Peso é popular na Romênia e no Brasil não é?
DS: Levantamento Olímpico não é popular na Romênia, mas também não e considerado anormal. Os atletas são muito respeitados apesar de que não ganham muito dinheiro. No Brasil o LPO é ligado muito a fisiculturismo e Levantamento básico. Ninguém conhece LPO mas todo mundo tem uma opinião formada sobre as duas modalidades acima mencionadas. O fato de faltar ídolos olímpicos - nunca ganhamos medalha nos Jogos -  fator cultural, e o fato de não ser bem remunerado desmotivam as pessoas a praticar.

ER: Como você vê o panorama geral do Levantamento de Peso no Brasil?
DS: A base logística, e muito fraca. Tem um punho de treinadores e a Confederação Brasileira de Levantamento de Peso tem recursos limitados. Temos quatro clubes que investem e pagam profissionais para administrar os treinos. As federações são fracas e sem recursos. Existem sete atletas de nível panamericano e o Brasil se tornou favorito a medalhas panamericanas mas não tem nenhuma filosofia de trabalho com juniores.

ER: Um atleta na Romênia ganha dinheiro com o Levantamento de Peso?
DS: A estrutura do esporte romeno é diferente: paga-se a medalha e para medalhistas olímpicos, mundiais e europeus paga-se uma renda para o resto da vida. As condições de treinamento são muito melhores. Tudo é pago pelo governo. Então, apesar de que os atletas brasileiros ganham mais mensalmente, os atletas romenos ficam com mais dinheiro no fim do ano e da carreira.

ER: Qual a maior dificuldade dos atletas do Levantamento de Peso no Brasil?
DS: Começo: faltam bons treinadores para iniciação e não têm apoio nenhum em termos de transporte, alimentação, escola (bolsas) e equipamento.

ER: Você competiu por quais clubes na Romênia? E no Brasil?
DS: Na Romênia competi pelo CS Olímpia Bucareste e FC Estrela do Bucareste. No Brasil para EC Pinheiros e CNR Santa Luzia.

ER: Como foi sua lesão que fez você abandonar a carreira?
DS: Aconteceu quando trabalhava no Circo Marcos Frota, e foi realizando exercícios de acrobacia.

ER: O que os governos federal, estadual e municipal têm feito pelo Levantamento de Peso visando a Olimpíada de 2016?
DS: Nada especifico. O Governo Federal investe mal (não trabalha com especialistas da modalidade) mas investe em programas tipo Bolsa Atleta ou incentivo ao esporte. A bolsa atleta representa a maior fonte de recursos para a modalidade em nosso dias. Os projetos do LPO do Ministério são baseados em quem conhece quem, não em uma análise lógica! Os outros dois órgãos existem somente no papel e têm algumas iniciativas isoladas (uma bolsa estadual para algum atleta). O município construiu uma estrutura em uma escola mas tudo totalmente amador (não se trabalha com especialistas da modalidade) e sem continuidade.

ER: Você acredita em medalhas do Brasil no Rio 2016?
DS: Tem chances minúsculas mas existem!

ER: O Levantamento de Peso no Rio já foi muito popular nos clubes de massa, de futebol, como Botafogo, Flamengo e Vasco da Gama. É possível resgatar o Levantamento de Peso nestes clubes?
DS: Não, eles não estão enxergando o LPO como uma modalidade que vai dar retorno para eles.

ER: Há muitas academias de ginástica no Rio e no Brasil. Como explicar a existência de milhares de levantadores de peso amadoras e tão poucos atletas?
DS: Temos milhões de corredores mas poucos fazem atletismo de alta performance. A diferença de treinamento é absurda entre os amadores e profissionais. Um atleta amador de corrida corre; um atleta amador de luta, luta; o atleta amador de futebol, joga; mas atleta de academia de musculação nem passa perto de arranque e arremesso. A idade dos praticantes de academia também e incompatível com esporte de alta performance.

ER: Se uma pessoa quiser entrar para o esporte, quem ela deve procurar?
DS: A CBLP ou federações estaduais, mas somente se tiver a idade adequada.

ER: O CT de Levantamento de Peso do Rio é bom?
DS: O CT do Rio do Clube APCEF pode ser considerado um bom centro. Faltam detalhes para ser transformado em um excelente centro.

ER: Você ainda acompanha o Levantamento de Peso da Romênia?
DS: Sim, às vezes passo uma temporada lá para me atualizar. Depois de uma vida na modalidade todos os meus amigos da infância e adolescência são romenos e envolvidos com o LPO.

ER: Deseja deixar um recado final?
DS: Sem se adotar a mesma estrutura existente entre o COB e as Confederações, todas as federações do estado vão agonizar e não vão produzir nada para os Jogos Olímpicos de 2016. Somente as federações são capazes de receber investimentos e reverter eles de forma prática para as modalidades a longo prazo. Federação não é clube, onde o dirigente tira a modalidade quando quer! Há estados que já distribuem recursos para as federações. Infelizmente a inércia política do Rio em matéria de esporte é crônica

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