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domingo, 10 de junho de 2012

Entrevista com Flávio Cardia, Diretor Executivo da AFAB

Flávio Cardia começou como torcedor, se tornou jogador, foi técnico, presidente de clube e hoje comanda a Associação de Futebol Americano do Brasil. O esporte ainda é jovem mas em 2012 terá seu primeiro campeonato brasileiro sob chancela da AFAB.


ER: Pode nos contar um pouco de sua trajetória até chegar à Diretoria Executiva da Associação de Futebol Americano do Brasil?
FC: Sou fã de Futebol Americano desde 1990. Conheci o esporte através de jogos de videogame e das primeiras transmissões na TV brasileira feitas pela Bandeirantes. Como é comum no futebol americano do Rio de Janeiro, comecei jogando na praia, pelo Niterói Warriors em 2004. Em 2006, quebrei o braço e parei de jogar para atuar somente como técnico e presidente do Warriors. Em 2008, resolvi sair do Niterói Warriors para fundar o primeiro time de grama do Rio de Janeiro, o RJ Imperadores, que no mesmo ano foi vice-campeão do Sorocaba Bowl, e em 2009 Campeão do Torneio Touchdown. Até que em 2011 foi eleito Diretor Executivo da AFAB.
 
ER: Por que a AFAB não é Confederação Brasileira de Futebol Americano? Qual a diferença de Associação para Confederação?
FC: É simplesmente uma questão nominal. Mas de fato a AFAB é a Confederação Brasileira de Futebol Americano, já que tem como membros as Federações Estaduais de Futebol Americano do Brasil.

ER: Como está sendo o crescimento da modalidade no Brasil? Você tem alguns números para apresentar?
FC: Está sendo extraordinariamente grande, já que em 2008 não existia nenhum time de grama equipado no Brasil, e em 2012 temos mais de 60. Isso é muito mais do que em muitos países que já praticam Futebol Americano há muito mais tempo.

ER: Qual a expectativa da AFAB para o primeiro Campeonato Brasileiro oficial da modalidade?
FC: É muito grande, já que pela primeira vez estaremos juntando times do Nordeste ao Sul do Brasil, num total de 34, e onde poderemos de fato dizer que o campeão é o melhor time do Brasil.

ER: Por que a Liga Brasileira de Futebol Americano acabou?
FC: Porque enquanto a AFAB não organizava o Campeonato Brasileiro, os times eram livres para se auto-organizarem em ligas, mas isso não é mais necessário.

ER: O Torneio Touchdown é uma liga forte e concorrente do Campeonato Brasileiro oficial. Por que ainda não foi possível unificar e termos apenas um campeonato nacional?
FC: Porque ao contrario das outras ligas, que eram formadas por times, o Torneio Touchdown é um campeonato particular, portanto manteve o interesse em continuar sendo organizado.

ER: Os times do Rio de Janeiro se dedicam mais ao Futebol Americano de Praia que ao Futebol Americano original. Não há sequer um Campeonato Estadual de Futebol Americano fora da praia . Este cenário vai mudar?
FC: O tipo de estrutura necessário para se criar e se manter um time de praia é muito diferente de um time de grama. Ter um campo de treino, um estádio para jogar, ter mais de 60 jogadores freqüentando regularmente os treinos, dinheiro para viajar e organizar os jogos em casa, etc.... Portanto, como no Rio o "Beach Football" sempre foi muito tradicional e de baixo custo, é muito mais fácil se manter um time. Mas aos poucos e ordenadamente o cenário vai mudando, já que em 2009, só tinhamos o RJ Imperadores (hoje Fluminense Imperadores), em 2010 passamos a ter também o Vasco Patriotas e em 2011 o Botafogo Mamutes.... Em 2012 já temos mais um time se formando em Petrópolis e a ideia é ter outros times na Região dos Lagos por exemplo.

ER: Os clubes de futebol têm investido na modalidade. Isso é positivo para o esporte?
FC: Apesar deste investimento ainda não ser financeiro, está sendo muito importante sim, já que estar associado a um clube de futebol traz estrutura, público e mídia ao futebol americano, que é um esporte muito novo no Brasil. 

ER: Dos grandes clubes de futebol, um dos poucos que ainda não aderiu à modalidade é o Flamengo, que tem o maior número de torcedores do país. O que falta para o clube entrar no esporte? Já houveram conversas entre a AFAB e o Flamengo?
FC: Já houveram propostas de alguns times, mas o Flamengo ainda não se interessou em aderir. Neste caso, não é função da AFAB conversar com o Flamengo e sim algum time com um bom projeto.

ER: Além da financeira, há diferenças do Futebol Americano jogado no Brasil para o Futebol Americano jogado nos Estados Unidos?
FC: O Futebol Americano jogado em todo o Mundo segue as regras da IFAF (Federação Internacional de Futebol Americano) que são as mesmas do Futebol Americano Universitário dos Estados Unidos, e que possuem algumas poucas regras diferentes das regras da NFL (National Football League). Portanto, tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil e no Japão, todos jogamos com as mesmas regras.

ER: Depois dos Estados Unidos, quais os países mais fortes no esporte? Em qual nível o Brasil está?
FC: Em 2011 tive o prazer e o privilégio de acompanhar in loco a Copa do Mundo de FA da IFAF, na Áustria, onde em primeiro lugar ficou os EUA, em segundo o Canadá, em terceiro o Japão e em quarto o México. Brasil só havia jogado um amistoso em 2007, quando ainda nem tínhamos  times equipados, onde perdemos para o Uruguai. Em janeiro de 2012 voltamos a jogar com a Seleção Brasileira e vencemos o Chile por 31 a 0, e estamos agendando novos amistosos para dezembro!

ER: Qual o cenário sul-americano do esporte? Há campeonatos nacionais nos nossos vizinhos? Quais as seleções mais fortes?
FC: O Futebol Americano na América do Sul é jogado no Uruguai, na Argentina, no Chile e no Brasil. Todos esses países têm seleções adultas e sub-19, assim como campeonatos nacionais. Alguns outros países estão se desenvolvendo como o Paraguai, a Venezuela e a Colômbia.

ER: Dá para pensar em termos no futuro um Sul-Americano de clubes?
FC: Sim. Em dezembro de 2011 fui ao "Silver Bowl", tradicional jogo entre Uruguai e Argentina, em Montevidéu, onde realizamos uma reunião entre os quatro que jogam Futebol Americano equipado, e estamos programando para 2014 um possível Sul-americano de Futebol Americano no Brasil.

ER: No cenário feminino, as mulheres estão aderindo ao esporte?
FC: Sim. Em novembro de 2011 realizamos o primeiro jogo feminino equipado, mas o "Beach Football" e o "Flag Football" (futebol americano sem contato) são muito praticados pelas meninas, que inclusive estão trabalhando para ir à Copa do Mundo de Flag na Suécia, em agosto deste ano.

ER: Dá para fazer uma previsão de quando teremos o primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol Americano feminino?
FC: Isso ainda não sei responder, porque ainda temos poucos times e os que existem ainda têm muito pouca estrutura. Mas para 2014 já devemos ter alguma coisa.

ER: Trinta e quatro times vão disputar o Campeonato Brasileiro. Há algum favorito?
FC: Serão 34 times divididos em 3 Conferências, onde na minha opinião temos na Conferência Nordeste o Botafogo FC Espectros (PB) e o Recife Mariners (PE); na Conferência Central o Fluminense FC Imperadores, o Cuiabá Arsenal (MT) e o São Paulo Storm (SP); e na Conferência Sul o Coritiba FC Crocodiles (PR), o Joinville Gladiators (SC).

ER: De todos estes times, qual o que tem a melhor estrutura para treinos e jogos?
FC: Coincidentemente ou não, estes que acabei de citar! Quanto mais estrutura, melhor o time.

ER: Haverá transmissão ao vivo pela televisão da competição?
FC: Isso fica a cargo dos times. Então, em algum jogos teremos e em outros não. Infelizmente, ainda não temos propostas de algum canal para a transmissão dos jogos.

ER: Já há alguma coisa pensada para a Final de dezembro? A sede será neutra? Será num grande estádio de futebol?
FC: Ainda estamos estudando as possibilidades, mas o ideal é que seja ja casa de um dos finalistas, desde que um deles tenha as condições estruturais para organizar um jogo dessa magnitude.

ER: Com tantos times, já é possível pensar em criar uma 2a Divisão e criar critérios para participar do Campeonato Brasileiro dos próximos anos?
FC: Em 2012 não quisemos fazer isso porque como este será o primeiro ano do campeonato, ainda não teríamos como ranquear os times. Mas essa é uma possibilidade para 2013 em diante.

ER: Algum recado que queira deixar para os amantes do Futebol Americano no país?
FC: Que acompanhem o Campeonato Brasileiro, as nossas Seleções, para o que o futebol americano cresça cada vez mais!!

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