Flávio Cardia começou como torcedor, se tornou jogador, foi técnico, presidente de clube e hoje comanda a Associação de Futebol Americano do Brasil. O esporte ainda é jovem mas em 2012 terá seu primeiro campeonato brasileiro sob chancela da AFAB.
ER: Pode nos contar um pouco de sua trajetória até chegar à Diretoria Executiva da Associação de Futebol Americano do Brasil?
FC: Sou
fã de Futebol Americano desde 1990. Conheci o esporte através de jogos
de videogame e das primeiras transmissões na TV brasileira feitas
pela Bandeirantes. Como é comum no futebol americano do Rio de Janeiro, comecei
jogando na praia, pelo
Niterói Warriors em 2004. Em 2006, quebrei o braço e parei de
jogar para atuar somente como técnico e presidente do Warriors. Em 2008,
resolvi sair do Niterói Warriors para fundar o primeiro time de grama do
Rio de Janeiro, o RJ Imperadores, que no mesmo ano foi vice-campeão do
Sorocaba Bowl, e em 2009 Campeão do Torneio Touchdown. Até que em 2011
foi eleito Diretor Executivo da AFAB.
ER: Por que a AFAB não é Confederação Brasileira de Futebol Americano? Qual a diferença de Associação para Confederação?
FC: É simplesmente uma questão nominal. Mas de fato a AFAB é a Confederação Brasileira de Futebol Americano, já que tem como membros as Federações Estaduais de Futebol Americano do Brasil.
ER: Como está sendo o crescimento da modalidade no Brasil? Você tem alguns números para apresentar?
FC: Está
sendo extraordinariamente grande, já que em 2008 não existia nenhum
time de grama equipado no Brasil, e em 2012 temos mais de 60. Isso é muito mais
do que em muitos países que já praticam Futebol Americano há muito mais tempo.
ER: Qual a expectativa da AFAB para o primeiro Campeonato Brasileiro oficial da modalidade?
FC: É
muito grande, já que pela primeira vez estaremos juntando times do
Nordeste ao Sul do Brasil, num total de 34, e onde poderemos de
fato dizer que o campeão é o melhor time do Brasil.
ER: Por que a Liga Brasileira de Futebol Americano acabou?
FC: Porque
enquanto a AFAB não organizava o Campeonato Brasileiro, os times eram
livres para se auto-organizarem em ligas, mas isso não é mais
necessário.
ER: O Torneio Touchdown é uma liga forte e concorrente do Campeonato Brasileiro oficial. Por que ainda não foi possível unificar e termos apenas um campeonato nacional?
FC: Porque ao contrario das outras ligas, que eram formadas por times, o Torneio Touchdown é um
campeonato particular, portanto manteve o interesse em continuar sendo organizado.
ER: Os times do Rio de Janeiro se dedicam mais ao Futebol Americano de Praia que ao Futebol Americano original. Não há sequer um Campeonato Estadual de Futebol Americano fora da praia . Este cenário vai mudar?
FC: O
tipo de estrutura necessário para se criar e se manter um time de praia
é muito diferente de um time de grama. Ter um campo de treino, um
estádio para jogar, ter mais de 60 jogadores freqüentando regularmente os treinos, dinheiro para
viajar e organizar os jogos em casa, etc.... Portanto, como no Rio o
"Beach Football" sempre foi muito tradicional e de baixo custo, é muito
mais fácil se manter um
time. Mas aos poucos e ordenadamente o cenário vai mudando, já que em
2009, só tinhamos o RJ Imperadores (hoje Fluminense Imperadores), em 2010
passamos a ter também o Vasco Patriotas e em 2011 o Botafogo
Mamutes.... Em 2012 já temos mais um time se formando em Petrópolis e a
ideia é ter outros times na Região dos Lagos por exemplo.
ER: Os clubes de futebol têm investido na modalidade. Isso é positivo para o esporte?
FC: Apesar deste investimento ainda não ser financeiro, está sendo muito importante sim, já que estar associado a um clube
de futebol traz estrutura,
público e mídia ao futebol americano, que é um esporte muito novo no Brasil.
ER: Dos grandes clubes de futebol, um dos poucos que ainda não aderiu à modalidade é o Flamengo, que tem o maior número de torcedores do país. O que falta para o clube entrar no esporte? Já houveram conversas entre a AFAB e o Flamengo?
FC: Já
houveram propostas de alguns times, mas o Flamengo ainda não se
interessou em aderir. Neste caso, não é função da AFAB conversar com o
Flamengo e sim algum time com um bom projeto.
ER: Além da financeira, há diferenças do Futebol Americano jogado no Brasil para o Futebol Americano jogado nos Estados Unidos?
FC: O
Futebol Americano jogado em todo o Mundo segue as regras da IFAF
(Federação Internacional de Futebol Americano) que são as mesmas do Futebol Americano
Universitário dos Estados Unidos, e que possuem algumas poucas regras
diferentes das regras da NFL (National Football League). Portanto, tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil e
no Japão, todos jogamos com as mesmas regras.
ER: Depois dos Estados Unidos, quais os países mais fortes no esporte? Em qual nível o Brasil está?
FC: Em 2011 tive o prazer e o privilégio de acompanhar in loco a Copa do Mundo de FA da IFAF, na Áustria, onde em primeiro lugar ficou os EUA, em segundo o Canadá, em terceiro o Japão e em quarto o México. Brasil só havia jogado um amistoso em 2007, quando ainda nem tínhamos times equipados, onde perdemos para o Uruguai. Em janeiro de 2012 voltamos a jogar com
a Seleção Brasileira e vencemos o Chile por 31 a 0, e estamos agendando novos amistosos para dezembro!
ER: Qual o cenário sul-americano do esporte? Há campeonatos nacionais nos nossos vizinhos? Quais as seleções mais fortes?
FC: O
Futebol Americano na América do Sul é jogado no Uruguai, na Argentina,
no Chile e no Brasil. Todos esses países têm seleções adultas e sub-19,
assim como campeonatos nacionais. Alguns outros países estão se
desenvolvendo como o Paraguai, a Venezuela e a Colômbia.
ER: Dá para pensar em termos no futuro um Sul-Americano de clubes?
FC: Sim.
Em dezembro de 2011 fui ao "Silver Bowl", tradicional jogo entre
Uruguai e Argentina, em Montevidéu, onde realizamos uma reunião entre os quatro que jogam Futebol Americano equipado, e estamos programando para 2014 um possível
Sul-americano de Futebol Americano no Brasil.
ER: No cenário feminino, as mulheres estão aderindo ao esporte?
FC: Sim.
Em novembro de 2011 realizamos o primeiro jogo feminino equipado, mas o "Beach Football" e o "Flag Football" (futebol americano sem contato) são
muito praticados pelas meninas, que inclusive estão trabalhando para ir à
Copa do Mundo de Flag na Suécia, em agosto deste ano.
ER: Dá para fazer uma previsão de quando teremos o primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol Americano feminino?
FC: Isso
ainda
não sei responder, porque ainda temos poucos times e os que existem ainda
têm muito pouca estrutura. Mas para 2014 já devemos ter alguma coisa.
FC: Serão
34 times divididos em 3 Conferências, onde na minha opinião temos na
Conferência Nordeste o Botafogo FC Espectros (PB) e o Recife Mariners (PE); na Conferência Central o
Fluminense FC Imperadores, o Cuiabá Arsenal (MT) e o São Paulo Storm (SP); e na Conferência
Sul o Coritiba FC Crocodiles (PR), o Joinville Gladiators (SC).
ER: De todos estes times, qual o que tem a melhor estrutura para treinos e jogos?
FC: Coincidentemente ou não, estes que acabei de citar! Quanto mais estrutura, melhor o time.
ER: Haverá transmissão ao vivo pela televisão da competição?
FC: Isso
fica a cargo dos times. Então, em algum jogos teremos e em outros não. Infelizmente, ainda não
temos propostas de algum canal para a transmissão dos jogos.
ER: Já há alguma coisa pensada para a Final de dezembro? A sede será neutra? Será num grande estádio de futebol?
FC: Ainda
estamos estudando as possibilidades, mas o ideal é que seja ja casa de
um dos finalistas, desde que um deles tenha as condições estruturais
para organizar um jogo dessa magnitude.
ER: Com tantos times, já é possível pensar em criar uma 2a Divisão e criar critérios para participar do Campeonato Brasileiro dos próximos anos?
FC: Em
2012 não quisemos fazer isso porque como este será o primeiro ano do
campeonato, ainda não teríamos como ranquear os times. Mas essa é uma
possibilidade para 2013 em diante.
ER: Algum recado que queira deixar para os amantes do Futebol Americano no país?
FC: Que acompanhem o Campeonato Brasileiro, as nossas Seleções, para o que o futebol americano cresça cada vez mais!!
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