ER: Cláudio, pode nos contar um pouco de sua trajetória até chegar à presidência da FECIERJ?
CS: Quatro anos antes de participar de minha primeira eleição da FECIERJ, fui procurado por um grupo de ciclistas que estavam inconformados com a federação na época, solicitando minha candidatura à presidência da instituição. Porém, não tinha um grupo de trabalho formado, e, por este motivo, acreditava que não era o momento ideal para realizar todas as mudanças necessárias. Montei meu grupo de trabalho nos quatro anos seguintes e vencemos a eleição em 31 de Janeiro de 2009.
ER: Quantos atletas e quantos clubes filiados a FECIERJ tem hoje em dia?
CS: São mais de mil atletas filiados e 13 clubes/associações.
ER: Como sobrevive a FECIERJ?
CS: Do nosso trabalho e esforço conjuntos dos comissários, diretores e organizadores da FECIERJ. Todos os eventos realizados são revertidos (lucro) para as ações da própria federação. Temos poucos patrocinadores e nenhum recurso do Estado, municípios ou união, porém, compensamos tudo isso com muito trabalho e dedicação.
ER: Como você vê o Ciclismo no estado do Rio de Janeiro hoje?
CS: Segundo os atletas, mídia especializada e demais federações, é a melhor federação do Brasil, realizando mais eventos que a própria Confederação Brasileira de Ciclismo, e conseqüentemente, movimenta mais recursos em sua conta bancária e promove mais ações que a CBC. Bom, isso não sou eu que estou falando. São os atletas e especialistas em todo o território nacional. É só perguntar a todos.
ER: Os Governos Estadual e Municipal têm feito alguma coisa pelo Ciclismo do Rio, já que a nossa cidade será a sede dos Jogos Olímpicos de 2016?
CS: Somente a Secretaria Estadual de Transportes, através do secretário Júlio Lopes com o programa “Rio Estado da Bicicleta”. O município do Rio, tem sim jogado contra o Ciclismo e nossa instituição. No mês de Janeiro, expulsou a FECIERJ e todos os atletas de Pista do único Velódromo existente no Rio e está “doando” o mesmo para Goiânia. Uma pouca vergonha só para faturar alguns milhões com a especulação imobiliária (o local onde está o único Velódromo do Rio vai virar um super empreendimento imobiliário)! Por conta disso, nosso prefeito Eduardo Paes assassinou de uma só vez seis projetos fantásticos que nossa instituição desenvolvia no Velódromo Municipal do Rio.
CS: Péssimas gestões de pessoas que não tinham o menor comprometimento com o Ciclismo. Quando assumimos em 2009, o Ciclismo estava dizimado, o Estadual de 2008 não foi realizado e o de 2007 foi feito com menos de trinta atletas inscritos...
ER: É possível resgatar o Ciclismo entre os clubes populares de futebol? Pelo menos Bonsucesso, Botafogo, Flamengo, Fluminense, São Cristóvão e Vasco da Gama tinham departamentos de Ciclismo.
CS: Já tentamos. Fizemos contatos com vários clubes do futebol do Rio. Porém, apenas a Portuguesa da Ilha do Governador e o Petropolitano demonstraram real interesse... uma pena constatar esta triste realidade do desporto em nosso estado.
ER: O Velódromo Municipal foi demolido. Os atletas que ali treinavam foram para onde?
CS: Para as ruas, agora podem se dedicar ao futebol ou qualquer outro esporte que tenha um espaço destinado à sua prática.
ER: Sem o Velódromo, as escolinhas terminaram. É correto afirmar que não há no Rio numa nova geração de ciclistas de pista sendo formada?
CS: É correto afirmar que o Ciclismo de Pista do Rio, que em quatro anos se transformou em referência nacional, foi aniquilado, extinto por um ato impensado do prefeito do Rio. Enquanto brigamos pelos royalties do petróleo com o estado de Goiás (entre outros), nosso prefeito dá de mão beijada um patrimônio avaliado em mais de 40 milhões de Reais... Seria cômico se não fosse trágico.
ER: Em Rio 2016, qual modalidade tem mais chances de trazer medalhas para o Brasil no Ciclismo?
CS: O BMX Super Cross, porém, esta modalidade não tem uma pista sequer em todo o território nacional. Nossos atletas precisam se deslocar para a Argentina quando necessitam treinar para as provas internacionais. Isto também chega a soar como piada de uma comédia pastelão, você não acha?
ER: Treinar Ciclismo de Estrada tem sido uma aventura perigosa. Não é raro vermos notícias de acidentes com ciclistas. Como resolver esta questão?
CS: Antes nós tínhamos o Autódromo para treinar. Agora, nós também fomos expulsos. Estamos nas ruas dividindo o espaço da via pública com os automóveis, arriscando nossas vidas todos os dias da semana. Mas isso não parece ser um problema para a prefeitura do Rio, afinal, somos ciclistas e nunca fomos campeões mundiais ou medalhistas olímpicos. Podemos e devemos arriscar nossas vidas, pois para eles não faremos a menor falta em 2016, 2020, 2024... É preciso parar e pensar no que está sendo feito, caso contrário, perderemos a noção e a consciência do real valor da vida...
ER: Como popularizar o Ciclismo de Estrada no Rio, como são populares as corridas de rua?
CS: Basta que todos nós façamos o dever de casa. É preciso cuidar do Ciclismo como se fosse uma sementinha até que a mesma se torne uma árvore robusta, devemos dar atenção máxima e comprometimento diário com esta modalidade que contempla 54 medalhas a cada ciclo olímpico. Não é necessário mencionar que é preciso investimento, aliás, isto já está no contexto.
ER: Onde estão as pistas de Bicicross do estado do Rio?
CS: Eu é que pergunto: onde estão as Pistas de BMX (Bicicross) do Rio? Fizemos duas em mutirão (pequenas e simples) com nossos próprios recursos. O Eduardo Paes prometeu construir uma na Lagoa, mas, essa foi mais uma promessa não cumprida. Pode colocar em uma lista junto com todas as outras.
ER: Onde estão as pistas de Mountain Bike do estado do Rio?
CS: Em quase todos os municípios do estado, a melhor delas (aliás a melhor do Brasil) está em Rio das Ostras (Tayra Eco Park). Mas estamos construindo uma em santa Maria Madalena, no mesmo estilo e padrão. Só não temos pista no município do Rio. Para variar, fomos expulsos, também no MTB pela cidade sede das próximas Olimpíadas. Serão as Olimpíadas da exclusão. De um lado, os esportes milionários. De outro, os esportes que andam com o pires na mão. Assim nós faremos valer o slogan “Brasil, um país de todos”, todos os afilhados que foram agraciados por este ou aquele poderoso político.
ER: Uma criança que queira ser ciclista profissional, quem ela deve procurar, onde há escolinhas de Ciclismo?
CS: É só procurar a FECIERJ que nós encaminhamos para uma de nossas oito escolinhas dentro do estado (recursos próprios). O e-mail de contato é presidentefecierj@gmail.com
ER: Você acha que um dia o Ciclismo pode ser tão popular no Brasil como no Reino Unido, Itália, Espanha, França, Alemanha e Estados Unidos?
CS: Com toda esta injustiça e descaso do poder público, sinceramente não.
ER: Deseja deixar um recado final?
CS: Vamos nos politizar. Chega de votar neste ou naquele por interesse próprio, e principalmente, não esqueçam do que os eleitos prometeram e não cumpriram para que em 2016 (eleições municipais) não façamos o mesmo, repetindo um erro por mais quatro anos. Juntos sempre podemos mais!
6 comentários:
Muito interessante a sequência de entrevistas que o EsporteRio tem feito. Parabéns, Miguel!
Abraços Gloriosos!
Obrigado, Rui! Dá um trabalho mas é bem compensador. Esta entrevista com o Cláudio foi excelente. O governo do Rio 16 abandonou os esportes!
Parabéns pelas perguntas e respostas! Torcemos para que o ciclismo esteja cada vez mais integrado a nossa população brasileira, especialmente no Rio, não somente como esporte mas também como transporte alternativo.
Torcemos muito!
Sou ex atleta do ciclismo,parei de competir por falta de apoio, aqui em campos dos goytacazes eles so se lembram dos atletas no dia 06 de agosto na maior prova de ciclismo do interior do estado, é uma hipocrisia falar em esporte em um estado/cidade que não apoia seus atletas.
concordo. O Rio está perdido.
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