Francisco Carlos, o Chiquinho, como é conhecido, nos falou sobre a realidade do Niterói Rugby Football Club e dos esportes que o clube pratica: Handebol e Rúgbi.
ER: Pode me contar um pouco de sua trajetória até chegar à Presidência do Niterói Rugby?
FC: Entrei no clube em 1976 para treinar rúgbi, e como a organização do clube sempre foi voluntaria e assim é até hoje, fui tesoureiro em 1980 e 1981, e retornei a alguns anos, sendo convidado a participar da administração do clube.
ER: Como sobrevive hoje o Niterói Rugby?
FC: Da contribuição voluntária dos atletas, familiares e dirigentes. Nestes quase 40 anos tivemos patrocínios esporádicos e, atualmente, estamos em fase de captação de parceiros para projetos incentivados. Toda a documentação do clube está em dia e estamos prontos para desenvolver parcerias com empresas interessadas em associar a marca a uma instituição esportiva com 4 décadas de tradição, celeiro de talentos e conquistas memoráveis.
ER: Financeiramente falando, qual é mais rentável para o clube: Rúgbi ou Handebol?
FC: O clube é uma entidade sem fins lucrativos e a arrecadação é direcionada, completamente, para as atividades previstas para cada categoria de cada esporte. O Rugby é um esporte com custos maiores por competição e evento, porém, o Handebol, mais popular no Brasil, mantém uma quantidade maior de categorias e faixas etárias que, no total, acaba gerando despesas da mesma ordem do Rugby.
ER: O Niterói Rugby Football Club deveria ter também Futebol, não? Há algum projeto para o clube ter um time de Futebol?
FC: Já analisamos projetos de futebol e parcerias ou convênios com clubes da 2a e 3a Divisão Carioca. Não há razão para restringir esportes se for possível manter e desenvolver a filosofia de criação do Rugby, baseadas nos conceitos e filosofia do Rugby.
ER: Nos anos 70 e 80, havia uma grande rivalidade no Handebol entre o Niterói Rugby e o Flamengo. O Flamengo deixou o esporte. A saída do Flamengo foi ruim para o esporte e para o Niterói Rugby?
FC: A saída de um clube de massa como o Flamengo é sempre ruim para o esporte. gostaríamos que Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo estivessem disputando as competições de Handebol e Rubgy com o Niterói Rugby.
ER: Por que será que os clubes de massa (América, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama), que já tiveram Handebol, não conseguiram se sustentar no esporte? E por que o Niterói Rugby, de recursos mais limitados consegue?
FC: Os clubes de futebol têm sempre uma agenda e compromissos voltados para o próprio futebol em um universo profissional e internacional que envolve muitos interesses, inclusive financeiros. A experiência de esportes ainda em desenvolvimento no Brasil, como Handebol, exige dedicação e influência junto as instituições que organizam o esporte estadual e nacional. Tudo isto é analisado pelos clubes grandes quando há necessidade de cortes e depois que um trabalho é interrompido demora a ser reiniciado. O Niterói Rugby criou naturalmente um envolvimento entre os atletas, dirigentes e familiares de paixão e afinidade com o objetivo de manter equipes participando das competições estaduais e nacionais. As escolas de Niterói, que conta com uma ótima competição escolar, oferecem atletas permanentemente para todas as categorias de Handebol do Niterói Rugby. Juntando a tudo isto o município com a maior renda percapita do país, temos um contexto que favorece a estrutura de trabalho voluntário e pagamento das despesas pelos atletas. É mais barato jogar no Niterói Rugby do que frequentar uma academia e a satisfação individual é muito maior.
ER: Falando de Rúgbi, a procura pelo esporte aumentou depois que o Rúgbi foi oficialmente incluído no Rio 2016?
FC: Há dois grandes motivos para a exposição positiva do Rugby: um, sem dúvida, é a inclusão oficial no Rio 2016; outro é a reorganização da Confederação Brasileira e da Federação Fluminense. O trabalho realizado pelas entidades do Rugby está totalmente voltado para o crescimento e aproveitamento desta fase de interesse geral pela Rio 2016. Esta é sem dúvida uma oportunidade que não pode ser desperdiçada.
ER: O que falta para o Rúgbi ser um esporte tão popular quanto ele é em outros países vizinhos, como Argentina e Uruguai?
FC: O IRB, International Rugby Board, chama o Brasil de gigante adormecido e não compreende esta diferença entre o Brasil e seus vizinhos. Acredito que a origem do Rugby, jogado por estrangeiros, tenha construído uma imagem elitista e a falta de um projeto bem elaborado pelos dirigentes do esporte tenha mantido este cenário. Muitos acreditam que uma conquista internacional traz popularidade natural, porém, acreditamos que a massificação do esporte se faz em idade escolar e o sucesso com alto desempenho e seleções nacionais mobilizam a mídia e divulgam o esporte. Enfim, estamos trabalhando nestes dois segmentos: esporte educacional e alto desempenho.
ER: O projeto do Vasco da Gama, que pode ser o primeiro clube de massa a ter o esporte, é positivo para o Rúgbi? Como o Niterói Rúgbi vê a entrada do Vasco no esporte?
FC: Sem dúvida o projeto do Vasco da Gama, um clube de massa, é positivo para o Rugby. O Niterói Rugby acompanha de perto o projeto do Vasco da Gama e contribui, inclusive, com a indicação de mão de obra especializada. Queremos muito disputar competições com os clubes de futebol do Rio de Janeiro e Brasil.
ER: O Niterói Rugby tem algum projeto de Rügbi Paraolímpico?
FC: Desenvolvido pelo Niterói Rugby, ainda não. Existe um projeto de Rugby educacional, desenvolvido pelo INT e com a coordenação de uma atleta do Niterói Rugby, que incluí Rugby para cadeirantes. Este trabalho já é um sucesso nas escolas públicas de Niterói em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Recentemente, foi apresentado para o IRB já com o objetivo de parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
ER: Tanto no Handebol, quanto no no Rúgbi, há muito menos mulheres no esporte e as respectivas federações têm dificuldades até em montar campeonatos femininos. Por que?
FC: Infelizmente nossa experiência e os números comprovam esta afirmação. Em proporções menores os países em que Handebol e Rugby são mais difundidos e populares, também, apresentam esta diferença. Imagino que ainda seja por razões culturais. Não há nenhuma dificuldade ou diferença física que impeça ou atrapalhe as mulheres de praticarem Handebol ou Rugby. O Niterói Rugby comemora, em 2012, 15 anos de Rugby Feminino e este é o tema de nossa festa de final de ano. Temos muito orgulho de nossas equipes femininas que alcançaram sucesso nas competições estaduais e nacionais e escreveram a história do clube. Nosso trabalho com equipes femininas envolve todas as categorias em que há competição estadual ou nacional. Queremos aproveitar esta matéria para incentivar o aumento de participação feminina no Niterói Rugby e virar esta estatística. Basta entrar na página www,niteroirugby.com.br e procurar o telefone de contato do responsável pela sua categoria, são todas muito bem vindas.
ER: Qual a meta do clube para Rio 2016?
FC: Especificamente para alto desempenho, estamos trabalhando para participar das finais das competições nacionais em 2014/15/16 e 17 e estar bem representado nas seleções nacionais. Conforme já mencionamos acreditamos que o esporte de alto desempenho facilita as parcerias com empresas com maior capacidade e interesse de patrocínio e nos ajuda a manter o trabalho de base, esporte educacional e de participação, que é o que faz do Niterói Rugby uma associação que coleta 40 anos em 2013 e só cresce. Acreditamos que uma associação esportiva como o Niterói Rugby deve atuar nos três segmentos do esporte (educacional, participação e alto desempenho) e abranger todas as faixas etárias, desde a criança até o sênior. Esta convivência entre passado e futuro e a troca de experiências cria um ambiente de camaradagem e permite que cada um, a seu tempo, desenvolva suas habilidades conforme sua própria capacidade.
ER: O clube pensa em investir em outros esportes?
FC: Não temos projeto para outros esportes porque ainda não alcançamos o estágio que gostaríamos com Rugby e Handebol. Nosso projeto atual é avançar, amadurecer e profissionalizar o clube com os esportes de hoje.
ER: Quer deixar algum recado para a torcida e sócios do Niterói Rugby?
FC: A presença de vocês nos treinos e jogos é fundamental para manter este sonho, que vai se realizando aos poucos.