Rômulo Valente é o atual Vice-Presidente da Federação de Handebol do Estado do Rio de Janeiro. Apaixonado pelo esporte, ele nos conta das dificuldades enfrentadas pelo Handebol no estado do Rio, entre elas a falta de recursos e os poucos espaços para a prática da modalidade. O
Esporte Rio agradece ao dirigente o tempo dedicado a esta entrevista.
ER: Como a FHERJ sobrevive hoje em dia?
RV: Com pouquissímos recursos oriundos das insrições de equipes e atletas nas competições que realizamos. As equipes não conseguem pagar anuidade ou mensalidade pois a maioria é oriunda de trabalhos com escolas e projetos sociais. Os clubes estão falidos e o máximo que se consegue é um espaço para treinar e jogar
ER: Quais os clubes filiados à FHERJ hoje? E destes, quais estão em dia?
RV: Projeto Cidade das Crianças, Oriente AC, Itaguaí, Pavunense, Alef Hb, Mauá, SMCE/Beija Flor, Vila Olímpica M Tubino, Odete São Paio, Niterói Rugby, Volta Redonda, Petropolitano, Cepe/Caxias, Universidade Rural, Nilópolis HC, Nova Iguaçu HC, Associação Macaense, Unihand/ Belford Roxo, entre outros. E destes, 90% possuem alguma pendência financeira com a FHERJ.
ER: Nos anos 90 e início dos anos 2000, o Handebol do Rio era muito forte. O que aconteceu de lá para cá?
RV: As equipes perderam espaços em clubes e acho que Projetos de estabelecer a modalidade em locais promissores não avançaram. Para se ter uma idéia, na região da Barra da Tijuca , Recreio e Zona Sul não existe um local para praticar o esporte, que ficou restrito ao ambiente escolar. Em 2009, o Marina Barra iniciou um trabalho de handebol dentro das dependências do clube e participou de categorias de base. Mas construir uma identidade esportiva em um ambiente cada vez mais globalizado é extremamente difícil. A ausência de ídolos e resultados internacionais também contribuem.
ER: Por que clubes de massa, como Flamengo e Vasco que chegaram a jogar a Liga Nacional, desistiram do esporte?
RV: Esses clubes passaram por grandes mudanças e ainda não se reestruturaram completamente. Como o handebol não é uma modalidade que possui uma raiz nestes clubes, que em seu estatuto possuem algumas modalidades "obrigatórias" para manter, caso de remo e basquete, para que esses mesmos voltem a se interessar pela modalidade, dependemos da expansão da principal competição nacional promovida pela Confederação Brasileira. Ela que precisa trabalhar a imagem para que possamos realizar um trabalho para despertar o interesse nesses clubes. Mas carecemos deste trabalho. Veja que teremos um Mundial feminino em São Paulo e aqui nada recebemos de ação promocional. Ficamos dependentes desse despertar que é do andar superior, não da Federação Estadual que não possui recursos e não recebe nada do principal produto.
ER: É certo que para participar da Liga Nacional, Flamengo e Vasco faziam um alto investimento. Mas o problema é que estes clubes, além de América, Botafogo e Fluminense acabaram até com as escolinhas. A FHERJ toma alguma ação para reverter este processo e levar o Handebol de volta aos clubes de torcida?
RV: Corremos contra o tempo para buscar recursos, mas hoje nada recebemos. Portanto, trabalhamos apenas para manter o handebol ativo no estado. Como citei, esses clubes passam por uma reestruturação e o handebol também, pois precisamos de pessoas que queiram enfrentar novos desafios e elaborar projetos de longo prazo para essas camisas, que possuem um grande apelo. Porém hoje, temos excelentes profissionais para dirigir as equipes em quadra, mas não temos aqueles que poderiam gerenciar um projeto destes. Em todo o Brasil existem os clubes ditos de futebol e o handebol, em alguns estados conta com o trabalho de base. Porém, as principais equipes da modalidade não vestem a camisa de grandes clubes de futebol. Fica a dúvida se este é o melhor caminho. Acho que precisamos de um bom resultado internacional e a massificação da modalidade.
ER: Pelos campeonatos da FHERJ, o masculino é muito mais presente do que o feminino. Por que há mais equipes masculinas do que femininas?
RV: Isso é normal em todas as modalidades. Veja os exemplos do futsal e do basquete. Acho que a mulher assume as responsabilidades da vida mais cedo que o homem. Assim, se não existe a profissionalização, o homem se mantém por mais tempo no esporte e a mulher vai em busca de outras conquistas. Isso acontece também lá fora.
ER: No feminino, tivemos o Mauá ganhando a Liga Nacional várias vezes. Por que o clube entrou em decadência e hoje nem equipes adultas tem?
RV: É o trabalho de uma pessoa e não do esporte. O responsável pelo handebol sempre defendeu o esporte no clube e sempre buscou apoio e recursos. Com o seu falecimento, o esporte ficou órfão e só os resultados não mantiveram os investimentos. A pequena visibilidade da modalidade também contribuiu.
ER: O Handebol de Praia tem crescido muitíssimo. A FHERJ acha que a modalidade de praia tem mais futuro que a de quadra?
RV: Acho que é mais uma modalidade em busca de espaço. Temos um litoral que convida para a prática de esportes na praia e isso é positivo. Hoje, o esporte ainda luta pelo seu espaço e não é olímpico. Desta forma, a quadra leva uma vantagem. Mas acho que o crescimento de um pode ajudar o do outro. Não importa qual conseguirá despertar mais o interesse. Acho que o trabalho deve ser pelo esporte e as modalidades ainda estão ligadas.
ER: Voltando a falar da quadra, há pelo menos uma liga paralela aos campeonatos da FHERJ. Por que ela foi criada? Será que existe uma possibilidade de conciliação para termos um campeonato único e oficial?
RV: Legislação e globalização. Isso é normal e está acontecendo em todo o Brasil e com outras modalidades. Acho positivo para a modalidade que acaba mantendo mais equipes em atividade e por mais tempo. Não existe disputa, portanto, não existe possibilidade de conciliação. A verdade é que as competições se complementam. Uma única competição tiraria a possibilidade de conhecermos dois campeões. Reduziríamos o calendário de jogos para estes grupos, e enfim, reduziriamos o handebol no estado. Precisamos criar mais ligas para regionalizarmos o esporte pelo Estado.
ER: O que falta para o Campeonato Estadual de quadra ser tão forte quanto o Campeonato Paulista?
RV: Clubes fortes e investimentos. Em um Estado que possui um clube que sabe captar recursos (Pinheiros), que investe pelo seu quadro social (possui equipes de alto rendimento no handebol, voleibol e basquete, entre outras modalidades individuais), e municípios que também trabalham com alto rendimento, fica uma ilha em relação aos outros estados do Brasil. No Rio de Janeiro, as cidades não possuem trabalho de alto rendimento. Montam grupos para jogar os Jogos Abertos do Interior, mas pouquissímos fazem o investimento que os paulistas fazem. É só contar pelo interior em qualquer modalidade quem mantém alto rendimento - Volta Redonda e Macaé no voleibol, Petrópolis no futsal e Campos nohandebol. Faltou algum? São 92 municípios certo?
ER: O estado do Rio tem tido a FME Campos participando da Liga Nacional nos últimos anos mas este time sequer disputar o Estadual. Isso não deveria ser proibido?
RV: Proibir o estado de participar da Liga? Quando a equipe do Paraná venceu a Liga Nacional de Handebol masculino essa equipe não disputava o Estadual, pois o custo reduziria o investimento na competição nacional. Infelizmente, é o valor do projeto que impede esse ou aquele de estar em todas as competições. Algumas equipes em outros estados também precisam optar: competição nacional, estadual ou universitário, quando a equipe é de universidade. Na visão desportiva, acho que todos gostariam de jogar em todos os níveis possíveis. Mas hoje isso não é viável financeiramente, nem humano. Para se ter um idéia, a vice-campeã e depois campeã mundial de Águas Abertas (Poliana Okimoto) disputou o Circuito Mundial e não disputou o Circuito Brasileiro. Isso tudo se deve ao custo, apoio e calendário, que está cada dia mais difícil de administrar. A tendência, acho eu, é que teremos o encurtamento de algumas competições para conciliar estes campeonatos.
ER: Quais os planos da FHERJ visando a Olimpíada do Rio?
RV: Possuímos projetos incentivados em fase de captação, projetos de parcerias com o setor público, porém hoje não possuímos nenhum desses concretizados ou em andamento. Esperamos ainda que o estado desperte para as Olimpiadas antes de terminar a Copa do Mundo de Futebol. Veja que tudo que se fala em estruturação e investimento está ligado ao projeto Copa do Mundo. Ainda não está em atividade nem estão trabalhando o projeto Olimpiadas 2016. Isso é ruím. Mas sabemos o que precisamos: incentivar projetos nas diversas regiões e estimular para que o poder público faça sua parte nos municípios. Faltam espaços para o desporto no Rio de Janeiro. Vinte e quatro seleções de handebol desembarcarão no Brasil para o Mundial mas nenhuma passará pelo Rio de Janeiro, pois não temos quadras para o alto nível.