Enrevista com Edmundo Santos Silva
ER: Edmundo, qual a sua melhor recordação durante seu mandato como presidente do Flamengo?
ESS: Sem dúvida, os títulos conquistados em todas as modalidades e esportes.
ER: E qual sua pior recordação?
ESS: O dia do meu impeachment! Me senti como um filho que ama sua casa, seus pais, e eles o mandam embora de casa.
ER: Sua passagem pelo Flamengo deixou algum legado?
ESS: Eu falava que a marca Flamengo deveria ser o ativo mais protegido e que
deveria ser administrado por profissionais. Hoje, vejo o mercado de marketing esportivo só falar em preservação e cuidados com a marca. Falava que o Futebol, Esportes Olímpicos e o Clube como atividade social deveriam ser tratados de forma separadas e com gestões separadas e independentes. Hoje o mercado inteiro propaga isso. Dizia também que o Flamengo tinha um grande contingente de torcedores, mas
que tínhamos que formar uma base de dados, pois não conhecemos quem são eles, onde eles moram, o que eles consomem, etc. Após a constituição dessa base de dados, realmente teríamos uma receita do tamanho da nossa imensa torcida. Hoje, só se fala em base de dados de torcedores.
ER: A inesperada falência da ISL prejudicou o clube e a sua gestão?
ESS: Prejudicou totalmente, pois imagina uma empresa que tinha um faturamento,
contratos em andamento, e de um dia para o outro perde sua receita e os contratos continuam em andamento. Fomos obrigado a rescindir diversos contratos a fim de que pudéssemos na ocasião reduzir a perda do Flamengo. Saliento que foi criada uma comissão no clube que demonstrou cada centavo recebido da ISL e onde foi aplicado. Ressalto que todo o recurso que a ISL aplicou no Flamengo se transformou em patrimônio para o clube, pois o contrato previa que eles seriam ressarcidos em função do lucro da operação e com a falência não teve lucro.
ER: A aposta na ISL foi a causa do seu impeachment?
ESS: Não acredito! Eu ganhei as eleições de um ex-Deputado Federal e de um ex- Secretário Nacional de Esportes, que desde o meu primeiro dia de gestão se tornou um opositor. Existem grupos no clube, que são verdadeiras bactérias e que se aproveitam da baixa imunidade da diretoria para atacá-la, e claro com a falência da ISL, a imunidade da minha gestão ficou baixa e eles se aproveitaram disso. Aliás, até mortos votaram para o meu impedimento!
ER: Você pensa em voltar a ser Presidente do Flamengo?
ESS: Essa hipótese não passa por minha cabeça! Dei minha contribuição. Quando o clube precisar de qualquer ajuda, estarei sempre pronto para colaborar, mas não me quiseram como presidente. Agora, sou um torcedor como qualquer outro, que chora nas derrotas e sorri nas vitórias.
ER: Nos esportes olímpicos, você contratou um ídolo por esporte e o Flamengo ganhou prestígio e títulos em várias modalidades, além de atrair crianças para suas escolinhas. Essa política ainda é viável hoje em dia?
ESS: Como falei anteriormente, o Projeto Olímpico, além de ser um projeto cultural e educacional, faz também com que a marca esteja sempre em evidência. Caso o futebol vá mal, com o esporte olímpico bem, a marca se valoriza. Devemos entender também que o Brasil hoje não é mais o país só do futebol. O Governo Federal, Estadual e Municipal têm programas para investimento em esportes olímpicos que estão sendo muito bem usados por alguns clubes, federações e confederações. Isso faz com que os clubes tenham receitas para a manutenção destes esportes. Também, com a situação
fiscal em dia, os clubes podem obter através da Lei do Incentivo ao
Esportes, verbas para a manutenção de esportes olímpicos. As escolinhas são
pagas pelas crianças que vão ao clube aprender a prática esportiva. Isso gera uma boa receita para o Flamengo. Diante do exposto, acredito
no projeto olímpico.
ER: Como você vê os esportes olímpicos do clube hoje?
ESS: Acho que em algumas atividades estamos indo bem, mas como o Flamengo aplica
recursos próprios fica difícil manter um esporte olímpico de alto
rendimento.
ER: Em 1999, ano em que você assumiu a presidência, o clube ainda tinha atletas competindo em Atletismo e Tiro (mesmo treinando fora da Gávea) e equipes de Basquete Feminino. Estes esportes deixaram o Flamengo. Você hoje reintroduziria eles na Gávea?
ESS: Sem duvida alguma!
ER: Mais algum esporte você traria para o clube?
ESS: Futebol Feminino, Volei Masculino e Feminino Adultos e Lutas. Todos dão grande visibilidade à marca
ER: Durante seu mandato, o Futebol foi muito forte e conquistou dez títulos importantes (3 Estaduais, 2 Taças Guanabara, 2 Troféus São Sebastião, 1 Copa Mercosul, 1 Taça Rio e 1 Copa dos Campeões). Destas conquistas, qual a que mais te marcou?
ESS: Sinceramente todas. Ganhar um título é o prêmio por você ter sido o melhor. E ver o Flamengo como o melhor, é uma grande alegria.
ER: Dentre os jogadores de futebol que trabalharam durante a sua gestão,
qual foi o que você mais confiava e que você estava mais próximo?
ESS: Diversos atletas eram próximos, mas o Júlio César e o Petkovic, foram os mais próximos.
ER: Apesar dos dez títulos, muita gente te criticou na época porque o time não foi bem nos Brasileiros e na Libertadores. Por que o time não rendeu nestas competições?
ESS: Num campeonato longo, a formatação da equipe deve ser diferente, e não fui feliz nestas competições.
ER: Qual foi sua melhor contratação para o futebol no seu ponto de vista?
ESS: Petkovic, Gamarra e Edilson.
ER: Como era o seu relacionamento com o Oscar Schmidt?
ESS: Além de um grande atleta, Oscar é um super chefe de família e um líder positivo. Falava com todos os dirigentes de igual para igual, com educação e conhecimento de causa. Uma bela figura humana. Meu relacionamento sempre foi muito bom com o mesmo!
ER: Durante sua gestão, o Flamengo montou um timaço de vôlei feminino, que
reconquistou o título brasileiro depois de vinte anos. Por que o time
foi desfeito e por que o clube tem tanta dificuldade em conseguir um
patrocinador para disputar a Superliga de vôlei?
ESS: Uma pena o projeto não ter ido adiante. Acredito muito na taxa de retorno de mídia que o Vôlei traz para um clube.
ER: Você é casado com a técnica do Flamengo e da seleção Brasileira de Judô Rosicléia Campos. Você gosta de Judô?
ESS: Eu confesso que apreciava o Judô. Depois, me casando com a técnica desta
modalidade esportiva, uma pessoa alucinada pelo Judô, que ama o que
faz, aprendi a gostar muito deste esporte. Também pudera, se não aprendesse, tomava um Ypon em casa. Me orgulho muito dela, da forma dela trabalhar, e como ama o que faz. Falando sério, o Judô tem um lema que gosto muito que é o de "aprender a cair, mas depois se levantar". Isso é a vida!
ER: Você hoje torce mais pelo Judô e para os judocas do Flamengo que para o futebol do clube?
ESS: Sou Flamengo e onde o Flamengo estiver estarei torcendo pelo clube. Amo o Flamengo, e sempre que ele estiver disputando uma competição, independente do esporte, estarei ali gritando e torcendo por esse clube maravilhoso!
ER: Se você voltasse a ser presidente do Flamengo, atenderia algum pedido
de sua esposa para melhorar o Judô do clube? Qual seria este pedido?
ESS: Um ginásio só para o Judô (aliás, como estava no projeto da ISL) para investir mais na formação de atletas.
ER: Você proporia algo para o próximo Presidente do Flamengo ?
ESS: Claro! Proporia uma mudança do estatuto onde previsse uma gestão profissional. O Presidente de poder do clube tem responsabilidades e obrigações, mas não é remunerado por isso, e nesse caso, os obriga a largar suas atividades e se dedicar ao clube. Com isso não faz bem nem uma coisa, nem outra. Um Presidente de Poder, na eleição seguinte não poderia se eleger para outro cargo a não ser no seu próprio cargo. Isso dificultaria um Presidente de Poder fazer política com o Presidente do Clube, visando se lançar a Presidente na gestão seguinte.