Conheça Alexandre Badolato e a Brianezi
AB: A Brianezi foi fundada em 1972 por Paulo Brianezi. Ele tinha uma loja de sapatos e começou a fazer os botões no fundo da loja. Em 1972 a operação foi formalizada e a empresa foi aberta. Ano que vem vamos comemorar o Jubileu de Ouro da Brianezi, 50 anos de fundação.
ER: Por que a Brianezi parou de fabricar nos anos 80?
AB: A Brianezi interrompeu as atividades no ano 2000, após uma ação até certo ponto truculenta do então Clube dos 13 relacionada aos royalties pelo uso do escudo dos clubes.
Quando a Brianezi foi fundada ninguém falava em royalties, direitos de utilização de marcas de clubes de futebol, etc ... Esse assunto passou a ser trabalhado pelos clubes brasileiros principalmente a partir dos anos 90, com um combate forte à pirataria ... E na onda a pequena fábrica de times de botões entrou na mesma onda.
Para encerrar o processo a Brianezi assinou um acordo à época, pagando um pesada indenização e se comprometendo a não mais fabricar os times usando o escudo dos clubes. A partir daí a operação se inviabilizou.
ER: A ideia de voltar a fabricar surgiu de quem?
AB: Foi minha. Eu era apaixonado pelos Botões Brianezi desde 1978. Meses antes da Copa do Mundo da Argentina, meu pai trouze dois times Brianezi para casa e foi uma paixão avassaladora. Montei uma coleção e joguei muito no final dos anos 70 e maior parte dos anos 80. Parei e jogar no final dos anos 80 e empacotei meus botões.
Em 2016 eu me tive um problema sério de saúde, cujo tratamento levou cerca de dois anos ... Nesse período reencontrei meus botões que estavam empacotados há quase três décadas, e a paixão se reacendeu violentamente. Voltei a colecionar, procurar os Brianezi remanescentes como louco, E não me conformava de uma marca tão forte, que marcou a vida de tanta gente, simplesmente desaparecer. Não fazia sentido aquilo.
Passei então a tentar encontrar o Lúcio Brianezi, que tocou a operação desde 1978 até 2000, assumindo a fábrica após a morte do pai e fundador Paulo. O Lúcio havia se afastado completamente do mundo do botão, ninguém que eu conhecia sabia dele. Até que uma certa noite de 2019 o Lúcio apareceu em uma das ligas de São Paulo com dois times de botão para jogar. Um dos amigos que eu havia demonstrado meu interesse em encontrar o Lúcio estava lá e, a partir daí, a Brianezi começou a renascer. Assinamos o retorno da Brianezi na véspera de Natal de 2019. Dois meses e meio depois estourava a pandemia ...
ER: Não é arriscado voltar a fabricar num momento de crise econômica, crise financeira e também crise no futebol de botão?
AB:Vou ser totalmente transparente e direto aqui ... A Brianezi é deficitária, dá prejuízo. O processo de aplicação dos decalques e pintura, bem como a confecção dos goleiros e das bolinhas é totalmente manual ... Para a conta fechar os times deveriam custar quase o dobro do que custam hoje.
Mas o objetivo da volta da Brianezi nunca foi financeiro, mas sim o prazer de ver as lendárias caixinhas azuis de volta ao mercado.
Hoje a Brianezi está dentro de uma holding que abriga outras empresas de segmentos diversos e, por isso, ela consegue sobreviver mesmo sendo deficitária.
Mas não posso deixar de citar que a volta da Brianezi deu ocupação e renda para muita gente na pandemia. No pior momento da doença pelo menos 15 pessoas que estavam desempregadas passaram a ter uma renda aplicando decalques e pintando botões em casa. Montamos uma logística que os prestadores recebiam treinamento e depois recolhiam os kits, levavam para casa e devolviam com os decalques aplicados retirando um novo kit para dar sequência ao trabalho. Acho que só isso já valeu o investimento que fizemos.
ER: Quantos botões a Brianezi fabrica e vende atualmente?
AB: Uma média de 600 times por mês. São 6000 novos pequenos atletas criados por mês.
ER: FIFA e outros games são os maiores inimigos do botão?
AB: Acho que não.
Acho que o maior inimigo do botão é o abismo que ficou entre o jogo e as gerações mais novas. A Brianezi, por exemplo, pulou uma geração. É comum escutarmos clientes super felizes com o retorno da marca para passar amor pelo botão não para os filhos, mas para os netos ! Perdemos uma geração. A maioria das crianças nem sabe o que é botão, e quando sabe é porque em algum momento ganhou um time daqueles mais vagabundos como brinde em alguma festinha, isso não seduz ninguém.
ER: As crianças e adolescentes têm comprado brianezi?
AB: Não, diretamente não. Mas estão voltando a ter contato com eles através dos pais e avós que não querem deixar essa história morrer.
ER: As federações de futmesa têm suas regras oficiais (dadinho, disco, bola 3 toques, bola 12 toques, etc). É possível reconhecer a Brianezi como botão oficial e criar a regra Brianezi?
AB: Não queremos criar regra nenhuma. Acho que uma das coisas que atrapalha o crescimento do botão é essa miríade de regras pelo Brasil. Mas enfiar uma régua goela abaixo é pior ainda. Acho que cada um tem que testar os botões e ver se atende à sua regra de preferência. Eu pessoalmente só joguei bola 12 toques.
ER: Você tem um time favorito de futebol? E um time da Brianezi que você mais gosta?
AB:A Brianezi é meio palmeirense de nascença ... kkkk .. O Paulo Brianezi era palmeirense, o Lucio é palmeirense, eu sou palmeirense ... Curiosamente não fazemos os times do Palmeiras ... kkkk ... Ainda não conseguimos a autorização / fazer o processo de licenciamento do Palmeiras.
Meus times favoritos dessa nova geração são as seleções da Austrália em verde e branco, o Brasil e azul e todas as seleções novas, aquelas que a Brianezi não fez nos anos 70 e 80. Algumas nem existiam né ? Como as ex- republicas soviéticas como a Letônia, Estônia, Ucrânia, Armênia ...
ER: A Brianezi fabricava botões para outros esportes nos anos 70, como handebol e futsal. Ela vai voltar a fazer botões e mesas para estes esportes?
AB: Vamos voltar com o basquete também, já fizemos até umas mesas “double-face” de teste, futebol de um lado, basquete de outro.
O que pouca gente sabe é que a bola de basquete é maior que a de futebol. A bola é confeccionada da mesma forma, porém maior. Com a bola maior o botão bate mais embaixo dela e faz a bola subir.
ER: Quais os clubes e quais as seleções mais vendidos da velha fase? E da nova fase?
AB: Na fase antiga os clubes mais vendidos foram Corinthians, Flamengo e Palmeiras. As seleções do Brasil, Argentina, Itália e Alemanha.
Já com relação às seleções na fase atual tem uma situação bem curiosa. A seleção que mais vendemos, disparado, é o Uruguai. No início da operação quando a produção era menor, chegou a dar briga por causa do Uruguai.
ER: Quantos clubes e quantas seleções já foram feitos pela Brianezi desde sua fundação?
AB: Puts, essa pergunta é quase impossível de se responder ... Explico ...
No tradicional catalogo verde dos anos 70 e 80 são quase 300 times. Porém, nos anos 90, com o advento da internet e das impressões a cor, a Brianezi fez quase todos os times do mundo. Houve um caso de uma encomenda de 1000 times diferentes, o cliente encomendou todos os times de todos os campeonatos nacionais do mundo. Uma loucura!
ER: Vem aí alguma novidade para os fãs da Brianezi?
AB: Sim, sempre. Nos próximos 30 dias vamos lança a linha flex, com botões flexíveis termoformados em acetato, praticamente idênticos aos da época mais festejada da Brianezi.
Para o ano que vem vamos soltar uma edição comemorativa limitada dos 50 anos da Brianezi, depois uma coleção da Copa do Catar.