"Time grande não cai" é o que dizem os flamenguistas. Por outro lado, os torcedores de Botafogo, Fluminense, Vasco da Gama, America e Bangu, que já viram seus times serem rebaixados, lançaram nas redes sociais a polêmica sobre o rebaixamento do Flamengo de 1933.
Segundo o que se lê na internet, o Flamengo e a liga teriam virado a mesa para evitar o descenso do Urubu.
Vamos aos fatos: o Flamengo terminou em último lugar e não houve rebaixamento porque o regulamento assim não previa. O resto é lenda.
1933: Do Amadorismo para o Profissionalismo
A transição do amadorismo para o profissionalismo aconteceu de maneira conturbada em vários lugares do mundo, inclusive no Rio de Janeiro.A sociedade carioca não entendia como jogador de futebol poderia ser uma profissão. O futebol era objeto de lazer, um passa-tempo. Profissão erá médico, advogado, contador, bancário, professor, ...
Na prática, porém, apesar da proibição, muitos jogadores já eram pagos por defender este ou aquele clube.
A AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos) ainda era afiliada da CBD e, consequetenemente, da FIFA, em 1933.
Dos grandes clubes da época, Botafogo, Flamengo e São Cristóvão defendiam que o futebol continuasse amador.
A Fundação da LCF
Vencidos democraticamente no voto dos clubes, America, Bangu, Bonsucesso, Fluminense e Vasco da Gama fundaram a Liga Carioca de Futebol. A primeira edição do campeonato profissional do Rio de Janeiro ocorreria em 1933.
Já com a bola rolando no certame da AMEA, Flamengo, São Cristóvão e Carioca ficaram descontentes com algumas medidas administrativas da entidade, incluindo a premiação dos atletas. O trio trocou a AMEA pela LCF no meio da temporada. A AMEA anulou os resultados dos três de seu campeonato.
Os cinco clubes da LCF convidaram o Flamengo para a sua liga que já estava em andamento. Assim, o campeonato passou a ter seis clubes. O São Cristóvão ingressou na Sub-Liga. O Carioca, por razões próprias, decidiu não entrar mais em campo em 1933.
Na AMEA ficaram: Botafogo, Olaria, Andaray, Engenho de Dentro, Confiança, Cocotá, Mavilis, Portuguesa, SC Brasil e River.
Ainda tinha a LMDT
Outros 27 clubes disputaram o campeonato da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres. Estes times eram de pouca expressão, amadores e a grande maioria estava localizada no subúrbio da capital federal.
Os Resultados de 1933
Na LCF, o grande campeão foi o Bangu, que terminou quatro pontos à frente do Fluminense.
Classificação da LCF de 1933
- 1º Bangu - 16 - Campeão.
- 2º Fluminense - 12
- 3º Vasco da Gama - 10
- 4º Bonsucesso - 10
- 5º America - 7
- 6º Flamengo - 5
Na AMEA, apesar dos esforços de Olaria e Andarahy, o Botafogo ficou sem adversários à altura e conquistou o título.
Classificação da AMEA de 1933
- 1º Botafogo - 28 - Campeão.
- 2º Olaria - 23
- 3º Andarahy - 22
- 4º Engenho de Dentro - 19
- 5º Confiança - 19
- 6º Cocotá - 17
- 7º Mavílis - 16
- 8º Portuguesa - 14
- 9º SC Brasil - 11
- 10º River - 11
O Viação Excelsior, de São Cristõvão, se sagrou campeão da LMDT superando o Sudan, de Quintino Bocaiuva, na grande final.
Campeonato Carioca de 1934
Terminadas as ligas de 1933, como ficaram os campeonatos de 1934? Tivemos acessos e descensos?
Campeonato da LCF de 1934
A primeira divisão da LCF contou com sete agremiações. As mesmas seis de 1933, além do São Cristóvão, que provou o seu valor ao se tornar campeão da segunda divisão (a Sub-Liga) da LCF de 1933. Agora sim o São Cristóvão recebeu o convite para jogar entre os grandes clubes.
Campeonato da AMEA 1934
Os mesmos dez clubes de 1933 disputaram o certame. O Anchieta havia conquistado a segunda divisão de 1933 mas não foi convidado a subir pela liga. No meio do campeonato, metade dos participantes se revoltaram com a AMEA e se desfiliaram: Engenho de Dentro, Confiança, Cocotá, SC Brasil e River. Esta debandada causou o fim das atividades da AMEA.
Campeonato da LMDT 1934
A LMDT desistiu de concorrer com a AMEA e a LCF e se tornou a segunda divisão da LCF a partir de 1934. Oito clubes disputaram o certame. A LMDT também encerraria suas atividades ao final da temporada.
Conclusão
O futebol do Rio de Janeiro, que era a capital e a vitrine do Brasil, passava por um momento conturbado de mudança da paradigma. As ligas estavam se adaptando à nova realidade do futebol profissional. O número de participantes, o formato dos certames, as regras do profissionalismo e até a filiação à CBD/FBF estavam sendo colocados em xeque.
Neste contexto, os clubes que disputavam a primeira divisão recebiam convites para tal. Estes convites eram distribuídos de acordo com critério dos grandes clubes. A segunda divisão não era uma competição estabelecida como acesso e descenso - fato que já ocorria desde o início do futebol do Rio de Janeiro.
Para todos os efeitos, o regulamento do campeonato da LCF de 1933 não previa rebaixamento. Sendo assim, o Flamengo não foi rebaixado. Tampouco houve rebaixamentos na AMEA, nem na LMDT.
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