domingo, 4 de setembro de 2011

Entrevista: Guilherme Vos

Entrevistamos Guilherme Vós, maios símbolo da luta pelo Basquete Feminino em nosso estado há pelo menos dez anos. Técnico e Coordenador dos times da Mangueira, já passou por Flamengo e Fluminense. O Esporte Rio agradece o tempo e o carinho ao entrevistado.

ER: A situação do basquete fluminense é lastimável. O que fazer para os clubes tradicionais voltarem a investir no Basquete?
GV: Não sei se a palavra correta seria a usada na pergunta, mas com certeza, gostariamos de estar numa situação melhor, do que nos encontramos hoje. Entendo que a situação financeira dos clubes não favoreça o nosso cenário esportivo estadual. Os clubes antes conseguiam se manter apenas com arrecadação do seu quadro social mas hoje poucos conseguem manter suas modalidades desportivas de rendimento. Hoje, dependem muito mais de parcerias, sejam elas privadas ou públicas. Ainda acho que falta uma política mais efetiva e ampla para se promover o esporte. Mesmo com todos esses problemas, ainda conseguimos colocar varias atletas nas seleções brasileiras de base. Nas competições de seleções estaduais, estamos sempre fazendo a final contra São Paulo. Nos brasileiros escolares, temos duas categorias, sub14 e sub 17: fomos campeões no ano passado na sub 14 com o Santa Monica Centro Educacional (de Madureira) e na sub 17 ficamos com a medalha de prata, com o colégio ADN (do Méier).


ER: Qual a situação das escolinhas de Basquete no Rio? Há muitos jovens aprendendo a jogar basquete nos clubes do Rio?
GV: A procura pelo basquete, há alguns anos atrás, tinha diminuído. Mas gradativamente, tenho percebido aumentar esta procura. Obviamente, em clubes que disputam campeonatos de base e que possuam equipe adulta, sempre existe uma motivação maior. Acredito que muitas ações sociais, projetos públicos e privados, de iniciação esportiva, também contribuam para o surgimento de novos atletas. Acredito que muitas crianças sempre se encantem com o basquete. Escolinhas existem mas a continuidade, chegar numa equipe, fica comprometida. Na maioria dos casos por problemas financeiros.


ER: O que você espera ou esperava do governo do Rio, que é o governo de uma Cidade Olímpica? Está desapontado com a falta de investimentos nos esportes amadores?
GV: Vejo muitas matérias a respeito de construções, reformas e seus prazos. Acredito que seja uma etapa prioritária mas ainda espero ações mais efetivas, diretamente ligadas ao desenvolvimento da cultura esportiva na cidade. Deverão vir muitas competições para serem disputadas no Rio de Janeiro até a chegada da Olimpíada, o que incentivará bastante as pessoas a praticarem esportes. Espero também, que aconteçam ações diretamente ligadas aos profissionais dos diversos esportes, como clinicas e palestras. De alguma forma, precisa-se estimular e reforçar os campeonatos estaduais das diversas modalidades esportivas. É preciso massificar o esporte. Será a chance que o Rio de Janeiro, terá para se consolidar como uma força e referência esportiva mundial.


ER: Muita gente está falando do péssimo momento do Basquete Masculino no estado. Mas esquecem que a situação do feminino é muito pior. Fora Mangueira, Botafogo, ABASCA e Germânia não há equipes no Rio. Flamengo, Fluminense e Vasco até fecharam suas escolinhas. Como reverter este quadro?
GV: No Rio de Janeiro, especificamente no feminino, ainda temos o Jequiá I. C. (sub-12, 13, 14, 15 e 17) , Queimados (sub-15 e 17), Jacarepaguá TC (sub-15) e o Riachuelo (sub-17 e 19). No feminino, é realmente mais difícil...muitas equipes iniciam os trabalhos e no meio do caminho desistem, por motivos variados, mas o principal é a falta de recursos financeiros. Outro fator que dificulta muito, é a falta de treinadores querendo trabalhar no feminino. Alguns começam no feminino para fazer uma ponte para o masculino, onde as oportunidades e possibilidades, se apresentam maiores, com relação a salário, divulgação, condições de trabalho e ascenção profissional. Flamengo, Fluminense e Vasco não fecharam as escolinhas mas não disputam o basquete feminino. Para reverter esse quadro, precisa-se de muita divulgação(mídia) e investimento.


ER: Fora Macaé, Campos, Cabo Frio e Nova Iguaçu, poucas cidades do interior investem no Basquete e mesmo assim priorizam o masculino. Angra, Volta Redonda, Resende, Niterói, Baixada Fluminense não têm quase nada. Como levar o Basquete para o interior?

GV: Todas esses municípios que foram citados, talvez excluindo Resende, já tiveram fortes equipes femininas nas categorias de base ou adulta. Gostaria de citar também, Nova Friburgo, Miracema, Campos e Teresópolis. E pelo que me recordo, a dificuldade financeira, sempre causava o afastamento dessas equipes, da competição estadual, por causa dos deslocamentos para cumprir as tabelas de jogos.

ER: O Feminino não tem Estadual desde 2007. Por que há mais homens que mulheres entrando no Basquete? Teremos Estadual este ano?
GV: Há mais homens do que mulheres entrando na maioria dos esportes. Isso não é uma exclusividade do basquete. É cultural. Com menos equipes de base, a continuidade para se manter as atletas jogando uma competição adulta, esbarra mais uma vez no quesito financeiro. Fica difícil manter uma categoria adulta, quando a atleta não recebe salário e precisa começar a tomar um rumo acadêmico e profissional em sua vida. Se teremos Estadual esse ano, só saberemos quando as inscrições esgotarem o prazo.


ER: Falando um pouco de Flamengo, clube que você treinou, por que o Flamengo acabou com sua escolinha e equipes? O Flamengo foi Campeão Mundial Adulto Feminino de 1966 e investe muito dinheiro no time masculino. Seria o Flamengo um clube machista?
GV: Não acredito que seja um clube machista, ou não teria elegido uma mulher para presidente. A Patrícia (Amorim) conhece o clube como poucas pessoas, principalmente o esporte amador, onde possui uma história de vida. Quando ainda trabalhava no Flamengo, Patrícia assumiu cargo de gerente na Vice- Presidência de esporte amador. Sempre muito solicita, buscou acompanhar os esportes do clube, e na medida do possível, solucionar seus problemas e necessidades. A escolinha do clube continua ativa e sempre muito procurada, inclusive por meninas. O basquete feminino, foi extinto na gestão do Sr Edmundo Santos. Na época, fui informado, que o motivo alegado, era o alto custo da modalidade para o clube. Seria importante ter de volta na disputa do Estadual de basquete feminino, equipes de grande destaque, como as de futebol.


ER: Todo ano a Mangueira tem dificuldades financeiras para disputar o Brasileiro. Será que este ano vai conseguir patrocínio?
GV: O projeto da Mangueira, surgiu com o objetivo de inclusão social através do esporte. O basquete foi incorporado ao projeto e com o tempo, se desenvolveu e passou a participar de torneios abertos, da Federação fluminense, sempre com um bom desempenho. Com isso, passou a participar das competições estaduais, se filiando à federação, criando assim um setor de rendimento. Várias atletas serviram às seleções cariocas e brasileiras, o que deu ao projeto mais força e visibilidade. Hoje, as equipes de base estão envolvidas com o apoio e parceria da Petrobras, através do projeto olímpico. A formação de equipe adulta, depende de mais esforços para ser formada e estamos sempre tentando buscar essas condições.


ER: A Mangueira terá um time capaz de brigar pelo título brasileiro de 2011/12 ou será um time apenas com alunas formadas na escolinha?

GV: Tudo realmente vai depender, das condições que conseguirmos aliar ao nosso trabalho.

ER: Quando sai a tabela do Brasileiro 2011/12?
GV: Já aconteceu uma reunião em São Paulo, promovida pela LBF, com os representantes dos clubes. Surgiu o numero de 11 participantes mas foi dado um prazo maior, para a confirmação e confecção da tabela. Acredito que o campeonato comece em novembro, por conta das atletas dos clubes, envolvidas nas competições da seleção brasileira, como o Pré-olímpico, o Panamericano, e por seus clubes, representando suas prefeituras nos Jogos Abertos de São Paulo.

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