Guto Loureiro primeiro foi atleta olímpico e diversas vezes campeão pelo
Flamengo e pela seleção brasileira. Afastado do esporte, abriu seu próprio clube de remo. Além de levar o esporte à Zona Oeste do Rio de Janeiro, deu esperança a diversos jovens que não tinham acesso ao Remo.
ER: Guto, pode nos contar um pouco de sua trajetória até fundar o CR Loureiro?
GL: Bem, comecei a remar em 1984 convidado pelo meu cunhado que remava no Flamengo e lá, estreei nas competições em setembro de 1985, na categoria estreante, vencendo a prova do 4 com timoneiro. Depois de me
apaixonar pelo esporte, fui conquistando espaço e acumulando títulos, e
tive a oportunidade de realizar o sonho de qualquer atleta de ir a
uma Olimpíada. Consegui em 1992, em Barcelona, no barco em que estreei no
remo: 4 com. Encerrei minha carreira oficialmente em 2003, sendo
duodecacampeão estadual, decacampeão brasileiro, tricampeão sul-americano
e 12o. lugar em Barcelona. Parei de remar forçado. Após um exame de
rotina que fazia anualmente, descobri uma alteração no meu coração,
me fazendo parar de remar completamente. Fiquei muito triste, pois amo
este esporte. Como já tinha no coração a vontade de abrir um clube
de Remo, minha parada foi a motivação que precisava para realizar este sonho. Assim,
em meio a tratamentos e planejamentos, consegui fundar em 2007 o Clube de Regatas Loureiro, que com muito pouco tempo, já mostrou resultados.
ER: Por que criar um clube de remo?
GL: Como falei, era um desejo que tinha de retribuir tudo que conquistei com o esporte a crianças e adolescentes que provavelmente não teriam a
oportunidade de praticar e conhecer um esporte tão maravilhoso, como o Remo. Freqüento a Igreja Missionária Evangelica Maranata e lá comecei a
fazer minha peneira para convidar meninos e meninas para remar. Tudo
começou bem basicamente, pois tinha somente um single skiff (barco individual
meu) e um canoe (barco individual de aprendizado), além de um par de remo meu e outro emprestado. Mas seguimos em frente. E o nome Loureiro é uma homenagem ao primeiro remador de nossa família: meu avô paterno José Augusto Loureiro, remador do extinto Clube de Regatas Gragoatá.
ER: Qual a grande meta do clube?
GL: Claro que sonho com algum atleta meu nas Olimpíadas e na seleção
brasileira, mas nosso foco maior é dar uma oportunidade de vida e
valores aos jovens e adolescentes de baixa renda, que hoje não têm. Posso não formar nenhum atleta campeão no esporte mas, com certeza, formaremos
muitos campeões da vida, pois sei que podemos solucionar muitos dos
problemas sociais de nossa sociedade através do esporte.
ER: Qual a estrutura que o Loureiro disponibiliza a seus atletas e alunos?
GL: Infelizmente, hoje, não temos uma sede própria como os outros clubes. Dependemos de alugar espaços e em cinco anos de existência estamos procurando, mais uma vez, um novo lugar para treinar. Temos vários barcos hoje, até barcos de ponta para competir, juntamente com os remos de qualidade. Tenho um projeto desenvolvido de uma sede que poderá se tornar um
Centro de Treinamento de Remo para atletas que queiram se aprimorar no
esporte. Ainda é um sonho, pois precisamos de um terreno às margens de uma das lagoas da Barra da Tijuca. Sou arquiteto e engenheiro e isso facilitou muito ao fazer o projeto (risos).
ER: Você sonha em ver o Loureiro Campeão Estadual de Remo? É possível?
GL: Se não sonhasse com esta possibilidade, não teria fundado o clube! É só uma questão de tempo e muita dedicação...
ER: Quantos alunos o CR Loureiro tem? E quantos fazem parte da equipe?
GL: Estamos num processo de renovação e selecionando 60 novos meninos e meninas para formar a nova pré-equipe do time. Na equipe, hoje, temos 10 atletas.
ER: Há um bom número de meninas no Loureiro?
GL: Sim, nossos melhores resultados vieram delas, e sempre selecionamos novas promessas.
ER: Qual o maior talento revelado hoje no clube?
GL: Temos a Tainá, uma menina que vinha da Pavuna pra remar. Nunca
faltava aos treinos. Ela foi nossa primeira atleta a ganhar uma prova no
Campeonato Estadual de Remo do Rio de Janeiro na categoria estreante, sendo também vice-campeã brasileira na categoria Júnior.
ER: O CR Loureiro tem algum patrocinador e ou conseguiu alguma verba através da Lei do Incentivo ao Esporte?
GL: Ainda não, mas precisamos muito! Eu tenho um escritório de arquitetura e construção e sustento o clube através dele. Mas o remo é um
esporte muito caro e precisamos muito de ajuda. Tenho um projeto para
apresentar ao Ministério dos Esportes. Estamos tentando mas as regras não
são muito claras, tornando mais difícil o processo.
ER: Remo é um esporte caro por causa dos barcos (compra e manutenção) e dos
remos. O Loureiro consegue se manter somente com a escolinha?
GL: Como falei acima, é pura paixão e amor. Esperamos este ano ainda fechar um patrocínio.
ER: O Campeonato Estadual de Remo é disputado todo ele na Lagoa Rodrigo
de Freitas. É possível trazer alguma regata para a Barra da Tijuca para
o Loureiro competir "em casa" e para motivar outros jovens a entrar no esporte?
GL: É sim! Estamos planejando com a FRERJ (Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro) para que em 2013 tenhamos uma etapa da Regata Remo do Futuro na Barra, possívelmente no Parque dos Atletas, em frente ao Riocentro.
ER: Como você vê o Remo hoje no Rio de Janeiro?
GL: Somos o celeiro do remo brasileiro. Os clubes que investem mais no remo estão aqui, por isso estamos enfrentando gigantes! Mas sinto muita
falta de gente competente administrando nosso esporte, tanto no Rio
(FRERJ) quanto no Brasil (Confederação Brasileira de Remo). Estamos com uma Olimpíada em 2016 e não temos nenhum tipo de planejamento concreto para captar novos talentos. O remo é um esporte que precisa de tempo para o atleta amadurecer. Estamos atrasados! imagina a situação nos outros estados!
ER: Como você avalia o desempenho do clube nas Regatas do Futuro, Campeonato Estadual e Troféu Brasil?
GL: Em 2009, fomos duas vezes vice-campeões nas Regatas do Futuro. Em 2010 e em 2011 também. Este ano, estamos renovando a equipe e esperamos fazer bonito também. Nos Estaduais, estamos brigando para ser a quarta força do Rio de Janeiro. Nos Brasileiros, já fomos vice-campeões por seis vezes. Este ano, acho que sairá o primeiro campeão brasileiro do Loureiro!
ER: O Loureiro pensa em abrir alguma filial em outro bairro ou cidade do estado?
GL: Por enquanto, queremos firmar nossa sede aqui na Barra mesmo. Futuramente, quem sabe poderemos abrir filiais pelos municípios? A Região dos Lagos é muito promissora...
ER: Deseja deixar um recado final aos seus remadores?
GL: Como sempre falo aos jovens: perseverança, disciplina, amor, dedicação,
superação e, principalmente, fé são as palavras que pertencem a um
vocabulário de um campeão. Boas remadas a todos e que Deus os Abençoe!