Sandra Mello é a Presidente da Federação de Hóquei e Patinagem do Estado do Rio de Janeiro desde 2005. Ela nos conta um pouco sobre a realidade dos esportes que administra há oito anos.
ER: Sandra, pode me contar um pouco de sua
trajetória até chegar à Presidência da Federação de Hóquei e Patinagem
do Estado do Rio de Janeiro?
SM: No início, acompanhava minha filha, que patinava no Flamengo (em 1993). Quando acabaram com a Patinação Artística no Flamengo, ficamos procurando outro clube e fomos acolhidos pelo Fluminense, onde atuei como diretor a de Patinação Artística. Em 2005, o então presidente da FHPERJ se recusou a continuar como
presidente, mesmo porque praticamente a patinação tinha acabado no Rio. Na época, a
Patinação se resumia ao Fluminense. Ninguém se interessava em assumir a federação e resolvi aceitar o cargo para que não acabasse a federação fluminense. O Hóquei também já se encontrava em crise.
ER: Como sobrevive hoje à FHPERJ?
SM: De teimosia. Hoje, ainda temos as mensalidades dos clubes, mas muitos se recusam a pagar, restando para os atletas assumirem a dívida (65,00 mensais, independente do número de atletas). Contamos também com as inscrições nos campeonatos.
ER: Quais os filiados à federação?
SM: AABB, ASA, Fluminense, Hebraica, Monte Libano, Monte Sinai, Colégio Santa
Marcelina, Colégio Servita Nossa Senhora Rainha dos Corações, Rio
Patinação, Corrêas Esporte Clube, Brasil Speed e Rio inline.
ER: Os governos estadual e municipal dão algum incentivo à FHPERJ?
SM: Não e para desanimar mais, apresentei um projeto através da Lei de Incentivo e foi recusado. Cheguei à conclusão que para elaborar estes projetos é preciso ser especialista no assunto
ER: A FHPERJ administra três modalidades esportivas: Hóquei sobre Patins,
Patinação Artística e Patinação de Velocidade. Você sabe nos informar
quantos atletas praticam estes esportes e qual é o mais popular?
SM: No Hóquei Tradicional, temos 12 atletas filiados, mas tem mais uns cinqüenta o praticando. Na Patinação Artistica, temos 80 atletas filiados, mas um número bem maior sem se federar. Na Patinação de Velocidade são 22 federados mas um número perto de 60 praticando o esporte. Ainda temos Sallon com uns 30 praticantes e Roller Derby com uns 25 praticantes. É muito difícil precisar o número mas o mais popular é a Patinação Artística.
ER: A Patinação Artística teve seu auge nos anos 60 com o Movimento
Mengo sobre Rodas, das mulheres atletas do Flamengo. O que aconteceu de
lá para cá que o esporte perdeu em prestígio e divulgação?
SM: Falta
de incentivo, dificuldade de se conseguir quadras e outros problemas,
até mesmo de administração. É preciso divulgar a patinação em geral. As
pessoas só gostam daquilo que conhecem. Quando no Pan 2007, as
competições foram realizadas no Miécimo da Silva (em Campo Grande) à noite, eu
particularmente achei impossível ter público, pois enfentar a Av. Brasil
à noite, seria preciso ter muita coragem. Para minha surpresa, os
ingressos foram logo esgotados em 45 minutos. Os primeiros ingressos a se
esgotarem foram os de Voleibol e em seguida os da Patinação Artística.
ER: O mesmo pergunto sobre o Hóquei sobre Patins. Nos anos 70 e 80 haviam
Campeonatos Estaduais regulares com times de Petrópolis,
de Cabo Frio, Vassouras, Teresópolis e da capital. O que aconteceu para
o esporte praticamente desaparecer de nosso estado?
SM: Falta
de incentivo. Em Corrêas, o Helinho acreditava e realizava um projeto
social que amparava 200 crianças carentes. Construiu uma quadra
excelente para a modalidade. Com a saída do Helinho, a modalidade teve um baque, mas mesmo assim há excelentes atletas. A seleção feminina práticamente é composta das atletas do Correas.
ER: Nos últimos anos surgiu o Hóquei em linha, espécie de hóquei no
gelo jogado em quadra. Por que o Hóquei em Linha não faz parte da
FHPERJ? Esta modalidade atrapalha o desenvolvimento do hóquei
tradicional no Rio?
SM: O Hóquei em linha estava abrigado à Confederação Brasileira de Esportes no Gelo, mas este ano já será federada à FHPERJ e confederada à Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação. Não acredito que atrapalhe. Há um público para o tradicional e outro para o em linha.
ER: O único time regular de hóquei tradicional é o Corrêas, de
Petrópolis. Existe algum projeto para difundir o esporte em outras
cidades, sobretudo na capital?
SM: Aqui consegui uma escolinha no Fluminense e acho que em Cabo Frio tambem tem adeptos.
ER: Ao contrário, a Patinação é muito forte na capital. Como fazer para levar a modalidade ao interior do estado?
SM: Estou trabalhando para isso. Já estão bem encaminhados projetos para Petrópolis e Teresópolis. Em
julho, realizaremos um curso de noções básicas da patinação, onde
habilitará professores de educação física para iniciar a modalidade.
ER: O Fluminense voltou aos quadros da federação em 2007. Nestes
cinco anos, já dá para avaliar o trabalho feito no clube nas três
modalidades?
SM: O Fluminense tem patinação desde 2000. Só tem Patinação Artística e Hóquei Tradicional. A Patinação Artística está bem praticada. O Hóquei tradicional possui uma escolinha bem iniciante e com poucos praticantes.
ER: Uma fonte nos contou que o Flamengo deve reabrir sua escolinha de
Patinação Artística, fechada no início dos anos 2000. Você confirma?
Qual a expectativa da federação com a volta do clube mais popular da
cidade ao esporte?
SM: Desde 1996, quando
acabaram com a Patinação Artística no clube, tentamos voltar com a modalidade, pois
entendemos que é uma tradição do Rio. Várias vezes quase conseguimos mas
na hora H, nada acontecia.
ER: Os grandes clubes têm capacidade de formar um bom número de
atletas e levar o esporte para a mídia. Com os retornos da dupla
Fla-Flu, você espera que Botafogo e Vasco da Gama também façam parte da
FHPERJ? Já houve algum contato da entidade com estes clubes?
SM: No Botafogo estive pessoalmente duas vezes, mas não consegui. No Vasco, tive uma boa recepção, mas o local não ajuda e eles querem um patrocínio que cubra as despesas do técnico.
ER: O Tijuca Tênis Clube tinha uma quadra exclusiva para a patinação
e assim como outros clubes deixou o esporte. Há alguma conversa da
federação com o Tijuca para que ele volte a investir no esporte?
SM: No Tijuca tive a informação que não havia horários disponíveis na quadra, mas gostaria de tentar.
ER: Quais atletas são as maiores revelações dos clubes do Rio nos últimos anos?
SM: Posso mencionar os nomes de Alessandra Castro Alves, Ana Beatriz Toledo,
Carolina Pezzella, Cesar Motta, Daniela Toledo, Flavio
Francisco, Gabriela Rodrigues, Larissa Maia, Sabrina
Seixas, Valentina Zapata e outros
ER: Qual a meta da FHPERJ para os próximos anos?
SM: Crescer, aumentar o número de filiados e federados e sediar campeonatos importantes. Perdemos o Velódromo e piorou a situação no Rio para os atletas. Desde
outubro de 2007, entramos no Velódromo e havia treinos todos os dias. O
espaço era aproveitado pelo Ciclismo, Patinação Artística, Patinação de Velocidade, Hóquei Tradicional e
Roller Derby. No Velódromo foram realizados Campeonatos Brasileiro, Copa Brasil e vários estaduais.
ER: Deseja deixar um último recado para a comunidade da patinação?
SM: A Patinação tem que se unir, não interessa qual a modalidade que pratica, temos que somar para nos fortalecer e crescer.