Cristina Callou (CC) é a
Vice-Presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo. Nesta entrevista, ela nos falou dos projetos olímpicos do clube e da situação de cada esporte dentro do clube.
O Esporte Rio (ER) agradece o tempo e a dedicação investidos para responder às nossas perguntas. Torcemos muito para que todos os projetos do esporte olímpico do Flamengo se concretizem.
Entrevista com Cristina Callou
ER: Qual a meta do Flamengo para as Olimpíadas de 2016?
CC: Historicamente, o Flamengo sempre colocou atletas em todas as Olimpíadas, desde 1932. Nosso objetivo é fornecer 20 atletas em pelo menos sete modalidades olímpicas em Londres e estar entre as três principais potências clubísticas do país.
ER: É correto afirmar que o esporte amador tira dinheiro do Futebol?
CC: Os esportes olímpicos do Flamengo não são auto-sustentáveis e utilizam recursos da receita geral do clube. O Flamengo tem um regime de caixa único e acha importante investir nos esportes olímpicos. O valor investido nos esportes olímpicos não chega a ser 5% da receita total do Clube.
ER: Pinheiros e Minas Tênis, que não têm futebol e nem torcida, conseguem se manter no topo em dezenas de modalidades por conta de diversos patrocínios. Por que o Flamengo, que tem a maior torcida do Brasil, tem tanta dificuldade em conseguir patrocínio para as modalidades olímpicas?
CC: Boa pergunta! O Flamengo nunca teve, na área de marketing, uma pessoa voltada exclusivamente para os esportes olímpicos, o que está sendo viabilizado nesse momento. Estamos nos reestruturando. Já temos patrocínio no basquete, na ginástica artística (algo inédito) e temos cinco projetos aprovados na Lei de Incentivo ao Esporte, através do Instituto Atleta Rubro-Negro, que estão em fase de captação.
ER: Quando o Flamengo contratou César Cielo foi anunciada a reforma do Parque Aquático Fadel Fadel, que ganharia piscinas com maior profundidade e arquibancadas para a torcida. Por que este projeto não saiu do papel?
CC: Nossa prioridade sempre foi a reforma estrutural da piscina, por causa de um vazamento. Ao mesmo tempo, trabalhamos no projeto arquitetônico da piscina, que já está pronto e é de primeiro mundo. O investimento total do projeto é de R$ 4 milhões e o clube está em busca de parceiros para a execução do mesmo.
ER: Nado Sincronizado e Pólo Aquático também vão ganhar com a reforma do Parque Aquático?
CC: Eles vão ganhar indiretamente apenas para eventos, pois a reforma principal é na piscina olímpica 1, e não na utilizada por essas duas modalidades em treinamentos.
ER: Os resultados na base do Pólo Aquático estão excelentes e culminaram num inédito título brasileiro no adulto feminino. Mas o Adulto Masculino está há cerca de 20 anos sem um título. Como quebrar este jejum?
CC: Investindo na base para formar os atletas do adulto. O Flamengo sempre foi formador, é tetracampeão no ranking da CBDA de pólo aquático, mas nunca teve recursos para investir na manutenção dos atletas formados em casa. Este ano já fomos campeões brasileiros sub-19 masculino e acabamos de ser vice-campeões sub-21 também no masculino.
ER: O Basquete é o primo rico dos esportes amadores do Flamengo. Mesmo assim, recentemente, o clube acabou com as equipes e escolinha femininas. Por que esta decisão? O Flamengo pensa em voltar a ter um time feminino, afinal o clube foi Campeão Mundial nos anos 60 neste naipe.
CC: O Flamengo não tem equipe feminina de basquete há pelo menos 15 anos, mas a escolinha é e continua sendo para ambos os sexos.
ER: Por que o Flamengo consegue ter patrocínios e um time de alto nível no Basquete mas não consegue fazer o mesmo com esportes tão populares quanto, como o Futsal e o Voleibol? A Presidente Patrícia Amorim chegou a anunciar que queria montar pelo menos um time adulto de Vôlei. Este projeto ainda existe?
CC: Recentemente, tivemos diversas conversas sobre a formação de equipes de vôlei , mas por enquanto nenhuma se concretizou. Para termos um time de alto nível, o patrocinador tem que vir junto. Quanto ao futsal, por não se tratar de um esporte olímpico, não posso responder. Ele é vinculado ao futebol, por se tratar de um esporte formador.
ER: A CBR mudou as regras do Campeonato Brasileiro de Remo e desde 2010 um barco pode ter atletas de várias equipes. Assim, não se consegue apurar com perfeição qual clube é o melhor do país. Os clubes de maior investimento, como os do Rio, pensam em revindicar uma mudança para 2012?
CC: O remo tem uma vice-presidência separada e esta resposta foi dada pelo supervisor da modalidade, Marcelo Freitas: “Sim. O Flamengo não concorda com esse modelo de disputa. O sistema não beneficia o clube, não é seletivo para nenhuma competição internacional e não favorece o nível técnico. É uma competição sem sentido. Participamos nos últimos anos nesse modelo, mas estamos reivindicando, junto à CBR, a mudança no formato. Inclusive, já apresentamos uma proposta para o presidente da entidade”.
ER: Desde a sua chegada ao Flamengo, a Ginástica Artística e o Judô receberam diversos investimentos em estrutura e contratação de atletas. Quais os próximos passos nestes esportes?
CC: Continuar investindo na estrutura física, pois ainda existem melhorias necessárias a serem feitas tanto no ginásio, quanto no dojô. Encontramos os ambientes sem condições de prática de alto rendimento. Através de convênios e recursos próprios, estamos recuperando esse espaço.
ER: Quase não se lê sobre os tenistas do Flamengo - nem no próprio site do clube. Por que o Tênis não recebe a mesma atenção dos outros esportes?
CC: Há alguns anos, o tênis é um esporte terceirizado no clube e não temos ingerência no mesmo.
ER: Pouca gente sabe que o Flamengo também tem Bocha. Tal como o Tênis, pouco se lê sobre este esporte, que faz parte da Paraolimpíada. O Flamengo pretende investir na Bocha, talvez visando a contratação de um time paraolímpico para o Rio 2016?
CC: Essa modalidade não faz parte da minha vice-presidência, ela é vinculada ao Fla-Gávea.
ER: Em 2010, o Flamengo contratou diversos canoístas da Seleção Brasileira. O Flamengo pretende ter uma escolinha e estrutura para a Canoagem ao lado do Departamento de Remo? Qual o projeto da Canoagem no Flamengo?
CC: A criação da equipe de Canoagem de Velocidade é uma cooperação entre o clube, a Confederação Brasileira de Canoagem e o Comitê Olímpico Brasileiro no intuito de criar condições ótimas de treinamento para os atletas de alto rendimento desta modalidade. No momento é neste objetivo que direcionamos todas as forças, porém não afastamos a possibilidade de criação no futuro de uma escolinha dentre outras ações. O clube já tem para os próximos Jogos Pan-americanos, quatro atletas classificados.
ER: Até o começo deste ano, o Flamengo tinha dois mesatenistas e era federado junto à FTMERJ. Por que o Flamengo se desfiliou?
CC: Desde que assumi a Vice-Presidência, em 2010, desconheço a existência de atletas nesta modalidade.
ER: O Flamengo ainda tem algum time de paraatletas? Em quais modalidades? Se não tem, o clube pretende ter visando as Paraolimpíadas de 2016?
CC: Temos atletas paraolímpicos em Judô (Karla Cardoso - Bi-vice-campeã Paraolímpica 2004 Atenas e 2008 Pequim), além de alguns remadores.
ER: Durante a campanha presidencial do clube, a oposição regularmente promete a reconstrução do Estande de Tiro, demolido em 1993. Isto está nos planos da atual gestão?
CC: Não sei responder e não me lembro de a Patricia ter feito esta promessa.
ER: O Flamengo foi o primeiro campeão brasileiro de Atletismo e ao longo da história produziu diversos ídolos como a Gazela Negra e João Telles. A pista de Atletismo da Gávea se foi, assim como a equipe e escolinha. Como o Atletismo é o esporte base da Olimpíada, será que o Flamengo pensa em voltar a este esporte nos próximos anos?
CC: Este é o desejo do Supervisor de Esportes Terrestres e Remo, pois o mesmo é oriundo desta modalidade, mas essa questão ainda não foi discutida a fundo pela Direção do Clube.
ER: Além de Atletismo e Tiro, Esgrima, Boxe, Ginástica Rítmica, Hipismo, Handebol, Tiro com Arco, Xadrez...o Flamengo tem muita tradição em diversos esportes que saíram do clube. Está nos planos reintroduzir algum deles na Gávea?
CC: Nos últimos anos existiu o pseudo-paradigma nos grandes clubes esportivos do Rio de Janeiro, da impossibilidade da coexistência do clube multi-esportivo. Tal verdade veio abaixo quando clubes sociais como o Pinheiros e Minas mantiveram e incrementaram o número de modalidade praticadas em suas sedes. O Flamengo inicia, a partir da administração da Presidente Patricia Amorim, este processo, através da manutenção, recuperação e reestruturação (física e técnica) de suas modalidades já existentes. A inclusão da Canoagem e o convênio com a Confederação Brasileira de Levantamento de Peso é um exemplo disto.