Na ocasião, foi possível conhecer melhor sua história dentro deste esporte e concluir que, efetivamente, ela era merecedora da comenda recebida. Nada mais justo, portanto, que, agora aos 92 anos de idade, seu nome seja estampado no estádio ora em construção.
Tal fato nos deu a esperança de que, quem sabe um dia, o nosso amado Tênis de Mesa possa igualmente lembrar-se de seus heróis, ou seja, lembrar-se daqueles que muito lutaram para que o nosso esporte pudesse simplesmente existir.
Por isso, Alexandre de la Peña, companheiro veterano, e eu, que ainda damos nossas raquetadas no salão do Fluminense, no Rio de Janeiro, resolvemos compilar o início da história das participações da Seleção Brasileira de Tênis de Mesa em campeonatos internacionais, uma vez que temos o raro privilégio de, todas as terças-feiras, ao lado de outros amigos, ter a honra de trocar bolas com DAGOBERTO MIDOSI, ativo participante, como jogador, técnico e batalhador (sobretudo) do início da história do Tênis de Mesa no Brasil.
Esta foi a humilde e singela maneira que encontramos, Alexandre e eu, de homenagear nosso querido Dagô, forma pela qual carinhosamente o chamamos lá no Fluminense, que estará completando 90 anos de idade no próximo dia 06 de maio de 2007. Decidimos, portanto, fazer mais do que apenas ouvir suas histórias, sempre tão ricas e deliciosas, e que, praticamente, destinavam-se até então apenas aos ouvidos e memória dos meus colegas e eu, que delas temos desfrutado tão saborosamente ao longo dos últimos anos. Decidimos registrá-las através da mídia eletrônica e divulgá-las para todos os que, de alguma forma, se interessam pela prática do Tênis de Mesa.
Assim sendo, se você puder repassar este e-mail para o maior número de pessoas envolvidas com o nosso esporte, estará, também, contribuindo para divulgar uma parte muito importante da história do Tênis de Mesa, tão pouco conhecida pela maioria e que, lamentavelmente, não está registrada em lugar algum, e que, por questão de justiça e coerência, deveria ser de conhecimento público e notório, se o nosso esporte tivesse memória e homenageasse (e respeitasse) aqueles que lutaram para que hoje nós tenhamos o prazer de jogar Tênis de Mesa.
Nós, do Fluminense, temos rendido nossas homenagens a DAGOBERTO MIDOSI ao longo dos anos (ele tem o título de grande-benemérito do clube e dá seu nome ao salão em que jogamos, para nosso orgulho).
Esperamos que, com a divulgação do relato abaixo, incluindo o texto da carta do Dagô para o então presidente da Confederação Brasileira de Desportos-CBD, Dr. João Havelange (e sua resposta), quando a este precisou recorrer para que o Brasil não deixasse de participar de eventos mundiais, mais pessoas e entidades, sobretudo as oficiais, se lembrem de que não é só a Natação que possui um grande e valoroso ídolo:nós, que gostamos do Tênis de Mesa, também temos o nosso, que dedicou boa parte de sua vida, numa época muito mais difícil do que a de hoje, para que o nosso esporte pudesse existir; além disto, ele conquistou inúmeros títulos nacionais e internacionais, dentre os quais se destaca o de Campeão Mundial de Veteranos. .
DAGOBERTO MIDOSI lutou a vida inteira para que o Tênis de Mesa do Brasil tivesse vez e voz. Sua perseverança, tenacidade e caráter altivo foram primordiais para que outros grandes nomes pudessem existir, tais como Ivan Severo, Hugo Severo, Waldemar Duarte, Baptista Boderone, Ivan Assumpção, José Pereira Antelo, Hans Fischer, Jacques Roth, Biriba, Betinho, Eduardo Barone, Luiz Mauro D’Almeida, Gilson Vieira, Ricardo Inoguchi, Aristides Nascimento, Cláudio Kano, Carlos Kawai, Hugo Hoyama, Silney Yuta, Ricardo Lopes, Mônica Jardim, Marcelo Leitão, Lee Yen Hua, Mônica Doti, Valesca Maranhão, Lívia Kosaka, Lyanne Kosaka, Carla Tibério, Eugenia Ferreira, Lígia Silva, Thiago Monteiro, Hugo Hanashiro e, entre os mais novos, Cazuo Matsumoto, Bruno Anjos, Rafael Shimizu, Lidney Castro, Nathália Barreira, Mariany Nonaka, Cláudia Ikeizumi e Carina Murashige, dentre vários e diversos outros nomes.
Conhecer, entender, respeitar e preservar sua própria história é o caminho correto que a humanidade possui para evoluir sempre, quaisquer que sejam os campos pelos quais a vida a tenha conduzido ao longo dos séculos.
Hoje, nosso esporte possui um número muito pequeno de praticantes e, salvo em raras e óbvias ocasiões, não encontra quase nenhum (ou mesmo nenhum) espaço na mídia. Talvez, se passarmos, algum dia, a seguir o princípio descrito no parágrafo acima, quem sabe, não teremos, então, o mesmo privilégio e orgulho que nossos co-irmãos da Natação estão tendo.
A. F. Orlando
Fevereiro, 2007
TÊNIS DE MESA - A história da Seleção Brasileira contada por quem lutou para construí-la.
Por Dagoberto Midosi
O Tênis de Mesa foi dominado pelos cariocas de 1947 a 1959, com pleno destaque para o melhor jogador de todos os tempos, na minha opinião, Ivan Severo, e, desse ano em diante, pelos paulistas, com o surgimento do grande atleta Ubiraci “Biriba” Costa.
Fundada em 1941, a Federação Carioca de Tênis de Mesa, logo seguida pela Federação Paulista e pela Federação Fluminense, filiadas à Confederação Brasileira de Desportos (CBD), por iniciativa do Professor Djalma de Vincenzi, a quem se deve creditar o início desse esporte em nosso país.
Em 1946, foi realizado na sede do Fluminense Football Club o primeiro Campeonato Brasileiro, com a participação das três entidades acima mencionadas, sagrando-se campeão individual o atleta Antonio Corrêa, do Fluminense, e, por equipe, a Federação Carioca, representada pelos jogadores Dagoberto Midosi, Carlos Mendes, José Neves e Antonio Corrêa.
Em fevereiro de 1947, o Brasil participou, pela primeira vez, do Campeonato Sul-Americano, realizado em Mar del Plata, Argentina, que foi o terceiro a ser então disputado. A equipe brasileira foi a seguinte: Ivan Severo e Dagoberto Midosi, nos jogos individuais, e Ivan Severo e Antonio Corrêa na dupla, já que o sistema de jogo utilizado era idêntico ao da Copa Davis de Tênis (sistema Marcel Corbillon). Os brasileiros ainda adotavam a raquete de madeira e os demais jogadores já utilizavam a borracha granulada. Ainda assim, o Brasil foi o 3o. colocado, sendo campeã a Argentina e vice-campeã a equipe do Chile.
Logo após, os brasileiros passaram a usar o mesmo material, isto é, a borracha granulada, fato que melhorou sobremodo a técnica de nossos atletas: mas o grande impulso operou-se em 1949, com a participação do Brasil, pela primeira vez, também, no 16o. Campeonato Mundial, realizado em Estocolmo, Suécia. Vale a pena registrar a forma pela qual tal fato tornou-se possível: Mário Jofre, jogador do Fluminense, lituano, naturalizado brasileiro, conversando comigo, falou da possibilidade dessa participação e disse que iria procurar algumas companhias aéreas para pleitear quatro passagens.
Dias depois, desanimado, verificou que era extremamente difícil alcançar tal intento. No diálogo travado, sugeri que nós dois fôssemos procurar a SAS (Scandinavian Airlines System), empresa da Suécia, país sede do campeonato, e lá nos entendermos com o chefe da publicidade. Este nos ofereceu 50% de desconto, o que era bastante, mas não o suficiente. Lembrei-me de um amigo, Raul Martins, excelente negociador, que trabalhava no Gabinete Civil do Governo do General Eurico Gaspar Dutra, e ofereci-lhe a chefia da delegação, desde que obtivesse o patrocínio dos restantes 50% que nos faltavam.
Ele aceitou e saiu em busca desse montante, encontrando a mesma dificuldade, já que o Tênis de Mesa era um esporte praticamente desconhecido do grande público (será que não o é ainda hoje!?).
Sugeri a ele que fôssemos procurar Gagliano Neto, famoso locutor da Copa do Mundo de Futebol, em 1938, e que estava inaugurando a Rádio Continental, dedicada exclusivamente aos esportes. Gagliano deu-nos a solução: não tinha dinheiro, pois a rádio estava sendo implantada, mas nos deu uma carta de crédito em publicidade no valor dos quatro bilhetes, dizendo que o produto da venda serviria para cobrir os 50% que faltavam. Rápido, Martins vendeu à própria SAS parte da publicidade e, facilmente, vendeu o que restava para outros interessados em anunciar na rádio.
Embora a equipe fosse de três jogadores, seria conveniente a presença de um quarto atleta para suprir qualquer eventualidade. E o escolhido, naturalmente, seria, como de fato foi, Antonio Corrêa, do Fluminense. Ele era empregado do Banco Boavista e a única possibilidade era obter o patrocínio do banco. Martins e eu procuramos o dono do banco, Barão de Saavedra, e explicamos o assunto. O barão, a princípio, foi relutante, mas acabou cedendo e autorizou o patrocínio. Assim, foi completada a equipe, então formada por Ivan Severo, Dagoberto Midosi, Mário Jofre e Antonio Corrêa.
Estreando em campeonatos mundiais, o Brasil venceu dois jogos em seu grupo, apresentando-se de maneira elogiada pelos analistas de então. Essa participação foi decisiva para o futuro do Tênis de Mesa brasileiro, pois a experiência ajudou sobremaneira aos integrantes da equipe que, retornando ao país, repassaram aos demais praticantes todo o conhecimento aprendido.
E tal ensinamento foi de fato precioso, pois nesse mesmo ano de 1949 o Brasil sagrou-se, no quarto campeonato disputado, campeão sul-americano, evento que foi realizado no Rio de Janeiro, no Casino Atlântico (que depois veio a ser sede do Hotel Rio Palace, hoje Hotel Sofitel). A equipe foi constituída por Ivan Severo e Geraldo Pisani, nas simples, e Dagoberto Midosi e Baptista Boderone na dupla. Pisani, paulista, e os demais, cariocas. A vice-campeã foi a Argentina, vencedora do campeonato anterior.
À época, os Mundiais eram disputados anualmente e o Brasil compareceu, pela segunda vez, no torneio realizado em Budapest, Hungria. Essa participação foi uma verdadeira aventura, pois o país sede fazia parte da chamada “cortina de ferro”, e o Brasil não mantinha relações diplomáticas com os húngaros. Mesmo assim, a equipe seguiu via Copenhagen (Dinamarca) e de lá foi enviado um telegrama para a Federação Húngara comunicando a data da nossa chegada. No aeroporto, foi dado o visto para o nosso ingresso no país e tudo correu normalmente.
Para que se conseguisse o numerário necessário para a viagem até Budapeste foi uma tremenda dificuldade, maior do que a havida na viagem anterior, por que Martins não mais podia integrar o grupo. Lembrei-me de um outro amigo, Mariano Filho, excelente profissional de vendas, para substituí-lo e que acabou por obter o dinheiro para as passagens. A equipe, dessa vez, seguiu formada pelo que de melhor havia: Ivan Severo, Hugo Severo e Dagoberto Midosi. Não foi possível levar o quarto jogador e os três repetiram a atuação da estréia, ou seja, vencemos duas partidas.
O Tênis de Mesa, agora já um pouco mais difundido, mereceu da CBD o custeio para participar do Sul-Americano em 1950, na cidade de Santiago do Chile e sagrou-se campeão, constituindo a equipe os jogadores Hugo Severo, Dagoberto Midosi e Baptista Boderone, sendo o quarto atleta Wilson Severo. Ausente, o melhor jogador do continente, Ivan Severo (irmão de Hugo e Wilson).
Em 1951, o mundial foi realizado em Viena, Áustria, e Mariano Filho repetiu sua arte e conseguiu o numerário para cobrir o custo das quatro passagens e a dele, chefe da delegação. Desta feita, Hugo Severo não pode se ausentar e a equipe foi então formada por Ivan Severo, Dagoberto Midosi e Baptista Boderone, além de Wilson Severo, o quarto jogador, todos oriundos do Rio de Janeiro. Nesse campeonato, o Brasil venceu quatro jogos em seu grupo, melhorando de posição no ranking mundial.
Em 1952, o mundial teve por sede Bombaim, na Índia, e o Brasil compareceu usando a mesma fórmula: Mariano obtendo o patrocínio de várias empresas para o custeio das passagens. Nesta oportunidade, o chefe da delegação foi o pioneiro o Tênis de Mesa brasileiro, Professor Djalma de Vicenzi. A equipe titular foi composta por Ivan Severo, Dagoberto Midosi, Hugo Severo e mais Waldemar Duarte, que estreou em campeonatos mundiais neste ano. O Brasil venceu três jogos e no confronto com a Hungria, campeã desse mundial, perdemos por 5x1, pois derrotei o húngaro Szpezi, titular da equipe, resultado expressivo para o Brasil.
Nesse campeonato o Tênis de Mesa iniciou uma nova etapa com a introdução do material “esponja”, utilizado pelo atleta Satoh, o mais fraco jogador da equipe do Japão: graças ao uso desta novidade, tornou-se campeão mundial individual. O Japão fazia sua estréia em Mundiais obtendo excelentes resultados: mas a campeã foi a Hungria. A esponja modificou totalmente o esporte, porque imprimiu maior velocidade ao jogo.
Desconhecida dos europeus, a esponja só passou a ser usada por estes anos mais tarde, quando se convenceram de que já não podiam enfrentar os japoneses, já então dominadores do Tênis de Mesa. A esponja podia ser de qualquer espessura e tornou o jogo pouco atraente, pois não havia disputa de pontos (rally) e, por isso, pouco depois, sua espessura foi limitada aos parâmetros que hoje ainda existem.
Ainda em 1952, o Brasil disputou o Campeonato Sul-Americano em Assunção, no Paraguai: a equipe jogou com Hugo Severo, Baptista Boderone, Dagoberto Midosi, Waldemar Duarte e Wilson Severo: ausente, como quase sempre, Ivan Severo. O Brasil perdeu na final para o Chile por 5x3, deixando de ser tri-campeão pó um erro de Sylvio Rangel, responsável pela equipe, que escalou Wilson, deixando de colocar Midosi ou Duarte, ou os dois, bastando acentuar que Hugo Severo fez os três pontos e Boderone e Wilson não venceram nenhum jogo.
Em 1953, a sede do Mundial foi Bucarest (Romênia) e a equipe brasileira participou com Ivan
Severo, Dagoberto Midosi, Antonio Corrêa e Baptista Boderone: ausente Hugo Severo. O Brasil não venceu nenhum jogo, para surpresa geral, dada a boa participação nos outros mundiais, e a razão foi a seguinte: antes de ir para o campeonato, fomos convidados pela Federação Alemã para realizar várias partidas amistosas num giro por toda a Alemanha, jogando uma noite em cada cidade.
O cansaço tomou conta dos jogadores e o resultado foi o pior de todos. Entretanto, valeu a nossa presença porque, observando os jogos, verificamos que a esponja, introduzida pelos japoneses no ano anterior, estava sendo usada por jogadores de nível médio, com excelentes resultados. Os nipônicos não participaram do campeonato por motivos políticos.
Assim, ao voltarmos, em face do que havia sido observado, importamos aquele material do Japão e passamos a usá-lo com real aproveitamento. Tanto assim foi que, treinando apenas um ano, partimos para o Mundial de Londres, em 1954, sob o patrocínio, pela primeira vez, da CBD, esperançosos de uma boa apresentação.
E, realmente, o sucesso foi total, começando em Portugal, onde, antes do Mundial, realizamos o primeiro encontro frente a seleção daquele país, que derrotamos por 5x0, com excelente atuação de Ivan Severo, Dagoberto Midosi e Hugo Severo. Em Londres, a equipe titular foi composta por estes jogadores mais Waldemar Duarte: na ocasião, consolidamos o prestígio do Tênis de Mesa brasileiro já que em nosso grupo vencemos seis jogos, derrotados, apenas, pela Inglaterra, campeã do grupo e, depois, vice-campeã do mundo. Cabe notar que neste confronto com a Inglaterra, todas as partidas foram decididas em 2x1. Com esse resultado, o Brasil classificou-se em 6o. lugar no ranking, permanecendo na primeira categoria, figurando entre os dez primeiros países do mundo.
Nesse mesmo ano de 1954, após o Mundial, participamos do Sul-Americano em Lima, no Peru, e confirmamos nosso favoritismo, derrotando todos os adversários por 5x0. A equipe, sem Ivan Severo, foi composta por Hugo Severo, Dagoberto Midosi, Alberto Kurdoglian (Betinho) e Jacques Roth; os dois primeiros cariocas e os outrs dois paulistas. Como sempre, sem Ivan Severo, o melhor jogador da América do Sul. Nesse ano de 1954, começaram os paulistas a integrar a equipe nacional, pois, até então, os melhores jogadores brasileiros eram cariocas.
Em 1955, o Mundial seria em Utrecht, Holanda, e a CBD não podia custear as passagens. A solução encontrada, mais uma vez, foi a de procurar um patrocinador só; no caso, a Casa Garson. Abraão Medina, pai do Deputado Rubem Medina e do publicitário Roberto Medina, era sócio da aludida empresa e costumava assistir o confronto entre o Fluminense (Dagoberto, Waldemar e José Pereira Antelo) e o Club Municipal (Ivan, Hugo e Baptista); de modo que ao ser contactado por Midosi e Ivan prontificou-se a patrocinar e, mais ainda, a acompanhar a delegação para assistir várias partidas.
A equipe foi constituída por Ivan Severo, Dagoberto Midosi, Fernando Olazarri (chileno, naturalizado brasileiro) e Jacques Roth, estes dois vindos de São Paulo. Cumprimos boa atuação, mas o terceiro jogador (Olazarri ou Roth) empunhavam a raquete no estilo clássico, o que contra os europeus era uma desvantagem.
Em 1956, o campeonato foi no Japão e, embora eu tivesse conseguido verba na Assembléia para financiar as passagens, o então presidente da Federação Carioca, em estranho ao Tênis de Mesa, recusou-se a liberar o dinheiro para a viagem da equipe, uma vez que a verba havia sido liberada em nome da entidade. Pela primeira vez, desde 1949, o Brasil deixaria de participar do Mundial.
Mas em 1957 voltamos ao Mundial, que se realizou em Estocolmo, na Suécia, com a delegação custeada pela CBD, e o Brasil voltou a conquistar brilhantes vitórias, num total de quatro em seu grupo. Ivan Severo, Dagoberto Midosi e Hugo Severo, mais Jacques Roth.
Nesse Mundial, Ivan Severo derrotou todos os adversários, na competição por equipes, com quem jogou, e recebeu, ao final da competição, uma salva de prata, como premio pelo destaque da sua atuação considerada por todos brilhante, pois derrotou, inclusive, Ivan Andreadis e F. Stipeck, que sagraram-se campeões mundiais de dupla nesse campeonato.
Em 1959 o Mundial teve lugar em Dortmund, Alemanha, e nele o Brasil voltou a ter atuação destacada. Patrocinada pela CBD, a equipe foi composta por Ivan Severo, Ubiraci “Biriba” Costa e Alberto “Betrinho” Kurdoglian, mais Jacques Roth. Começou, nesse ano, a mudança da nossa equipe, com o surgimento dos paulistas Betinho, Roth e do extraordinário Biriba, um garoto, então, de 15 anos, que já provara ser um verdadeiro fenômeno.
E, realmente, a equipe teve um desempenho magnífico, pois ficou em segundo lugar no seu grupo, somente derrotada pela poderosa Hungria, permanecendo no ranking entra as dez melhores equipes do mundo. Cumpre ressaltar que eu, já no final da carreira e com mais de 40 anos, participei do Mundial de Veteranos (então Copa Jubileu) e conquistei o único título mundial que o Brasil possui neste esporte.
Em 1961, o Mundial teve lugar em Pequim, China, e parecia impossível a presença do Brasil, dado o custo elevado das passagens, tendo João Havelange, presidente da CBD, comunicado que não havia disponibilidade financeira para a viagem. Ciente da dificuldade, lembrei que poderia ser enviado um ofício para a Federação Chinesa propondo que a empresa aérea da China nos transportasse da Europa para Pequim, sem ônus, e nós nos deslocaríamos do Rio de Janeiro para a Europa por nossa conta.
A proposta foi aceita e ainda assim tivemos que obter um apreciável desconto para podermos arcar com o custo até a Europa. Restava constituir a equipe: foi realizada uma disputa entre os dez melhores jogadores, ausentes já então Ivan e Hugo Severo; Biriba, na época considerado hors concours, já estava escalado; as outras três vagas foram arduamente disputadas e classificaram-se Waldemar Duarte, Dagoberto Midosi e Jacques Roth.
Não tivemos uma boa participação, pois sem o Ivan e comigo já em final de carreira, o Brasil venceu apenas dois jogos: mas, individualmente, Biriba obteve um estrondoso sucesso ao derrotar Yung, chinês campeão do mundo em 1959, ficando entre os 16 melhores do mundo.
Em 1963, o Mundial foi em Praga (Tchecoslováquia) e a equipe foi formada por Biriba, Waldemar Duarte, Betinho e Jacques Roth e os resultados foram medíocres, já que surgira uma nova jogada no Tênis de Mesa, desconhecida dos brasileiros, o top-spin, criada pelos japoneses e que dificultava enormemente o jogo dos brasileiros.
A partir deste ano, afastei-me um pouco e, infelizmente, não houve empenho e perseverança na participação nos Mundiais: em 1965, 1967 e 1969 o Brasil ficou ausente. Como eu figurava como assessor no Conselho da CBD, fui instada a influir para que voltássemos a participar, embora soubesse das dificuldades. Procurei João Havelange, o grande benemérito dos esportes, a quem o Tênis de Mesa muito deve, e fiz ver a ele que o afastamento dos Mundiais estava destruindo um trabalho de anos e anos. Como sempre, muito atento, prometeu o retorno da nossa equipe e, de fato, enviou uma delegação, em 1971, ao Mundial do Japão.
No oportunidade seguinte, em 1973, o Mundial foi realizado em Sarajevo, Iugoslávia, e a equipe foi: Luiz Mauro D’Almeida, Medina, Eduardo Barone e Ricardo Inoguchi, que, com esse aprendizado, tornou-se, logo depois, o melhor jogador do Brasil.
Nesse ano integrei a delegação, chefiada por José Pereira Antelo, como técnico da equipe, tendo sido esta minha última participação no Tênis de Mesa, já que, a partir de então, só o acompanho através de alguns jogadores do Fluminense. De qualquer modo, embora a memória dos brasileiros seja curta, gostaria de deixar registrado que o início de qualquer empreendimento, para que alcance êxito, é necessário ter empenho, dedicação e, sobretudo, criatividade para poder prosperar. Foi o que aconteceu com o Tênis de Mesa brasileiro, apesar das dificuldades que sempre existem.
Considero importante o relato que fiz mostrando que sempre é possível vencer as dificuldades, bastando gostar do esporte e a ele se dedicar. Nada mais a dizer, a não ser deixar o meu muito obrigado aos que se dispuserem a ler e considerar o trabalho realizado.
Dagoberto Midosi
Dagô foi vice-campeão estadual individual de 1930 a 1933; campeão de 1934; 3º lugar no Sul-Americano de 1947; campeão sul-americano de 1949; participou do Mundial de 1949; campeão sul-americano de 1950; campeão mundial master de 1959.