Lyon Aragão é um especialista em todas as modalidades da Patinação. Nesta entrevista, ele nos conta um pouco da realidade deste esporte, que ele ajuda a crescer.
ER: Pode nos contar um pouco de sua trajetória na Patinação?
LA: Como grande parte dos patinadores, tive meu primeiro contato com os patins ainda criança, perto de meus 6 anos de idade, com os patins quads. Aos 10 anos fiz parte da febre do inline em 94. De lá em diante essas rodinhas fizeram parte da minha vida. Comecei minha aventura com o agressive inline, procurando rampas perto de casa, e com a idade fui em busca pela cidade em locais adequados para fazer as manobras radicais. Mantive o hobby da patinação em seguida, chegando a participar em filmagens de forma demonstrativa. Em um determinado momento da minha vida, aos 19 anos, já numa carreira promissora no trabalho na área de eletrônica, me veio a oportunidade de dar aulas durante o fim de semana, algo que já realizava de forma não consciente com os colegas que apareciam para aprender mais sobre a modalidade. O grupo Rio Inline, mas especificadamente seus fundadores, que me deram a possibilidade de transformar a brincadeira de dar aulas em algo sério e produtivo. Em pouco tempo havia largado meu trabalho assalariado pela aventura de orientar sobre as rodas. Na época estudava Física na UFRJ, e me transferi para a Educação-Física com o propósito de fundamentar meu conhecimento sobre os patins e entender melhor como o corpo funcionava. Nesse meio tempo eu deixava de ser somente o professor de radical e passava a aprender algumas modalidades de patinação: Fitness, Velocidade, Slalom ... Nesses anos fiz cursos de instrução e arbitragem, fui árbitro dos Jogos-Panamericanos no Rio, dentre outros eventos menores. Fiz matérias com diversos canais de comunicação, propagando a patinação e meu trabalho. Juntei uma equipe para a realização de eventos que continham patinação, propagandas e todo envolvimento de patins para mídias diversas. Realizei um curso para a formação de instrutores de patinação e juntei uma equipe para trabalhar comigo nas aulas coletivas. Como atleta adquiri algum reconhecimento em algumas modalidades, com algumas dúzias de medalhas, apesar de não me considerar um atleta de verdade, consigo tirar algumas vantagens por trabalhar de forma cotidiana com os patins nos pés, mas minhas maiores conquistas foram como técnico, pelos troféus de equipe e reconhecimento do meu trabalho. Já fui técnico de seleção brasileira de duas modalidades diferentes, e hoje, trabalho coletivamente e individualmente em seis modalidades diferentes com muito orgulho e vontade de aprender mais. Participo em grupos de patinação de todos os tipos. Já há algum tempo faço parte da federação e confederação que levam a patinação à frente. Resumidamente a patinação é a minha vida. Até hoje continuo aprendendo e aperfeiçoando meus conhecimentos. Ao terminar a faculdade comecei os estudos na área da biomecânica, fazendo Mestrado em Engenharia Biomédica na COPPE-UFRJ. Hoje minha pesquisa trata sobre a análise do perfil de torque de quadril dos patinadores de velocidade.
ER: Há muita diferença técnica da Patinação Artística para a Patinação de Velocidade e para o Hóquei sobre Patins?
LA: Sem dúvida, sim. As modalidades são muito específicas. A Patinação Artística busca o sincronismo e a estética em seus movimento, o que depende além de força e postura, muito controle muscular, o que faz o treino contínuo com os patins ser algo indispensável. A Patinação de velocidade por sua vez, também necessita de técnica e postura, mas o caráter de condicionamento físico se torna a prioridade depois que se atinge certo nível. Sem contar a necessidade tática de corridas. O Hóquei posso dizer que entre as três modalidades é a que mais tem flexibilidade nas características de patinação, pois as situações de jogo são diversas e cada qual necessita de uma ação lógica e muscular, sem contar o fato do constante trabalho que se é necessário para os membros superiores, por causa do "taco".
ER: E em relação à Patinação Artística de Salão para a Patinação Artística no Gelo?
LA: A Patinação Artística não está entre as de meu maior conhecimento, mas posso relatar minha análise pelo uso de ambos os patins. No gelo a lâmina necessita para o deslize estar em contato integral ao gelo. Já nos patins quads, as rodas podem estar individualmente no solo. Uma grande diferença para seus usuários é quanto aos giros que acontecem no próprio eixo. Os colegas da artística indicam esse fundamento como um dos mais complicados na modalidade fora de sua prática. A questão do quad ser um patins que possui dois eixos de movimento faz com que a natureza desses movimentos seja diferente do que no gelo. Mas hoje já existem os patins Artísticos inline, ainda não muito conhecidos no Brasil, mas já conseguem trazer alguns movimentos do gelo para as rodinhas.
ER: Quais são os seus projetos atualmente?
LA: Esse ano pretendo terminar minha tese mestrado e incrementar os dados que estou adquirindo na patinação de velocidade. Começo esse ano com os projetos sociais. Já tenho dois em vista e estou ansioso para começar. Quero aperfeiçoar o trabalho de massificação da patinação que já faço. E outros que não posso contar. Serão surpresa !
ER: Basta ir na orla do Rio no fim de semana para vermos muitos patinadores. No entanto, o esporte de competição, não é muito popular no Rio. Por que?
LA: Isso é uma pergunta que sempre acompanha os meus treinamentos. Parece que o comprometimento a uma determinada prática pelos cariocas não é algo fácil de lidar. Sempre existem diversas outras formas de lazer e prazer. Nosso Rio de Janeiro é lindo, né? Por isso a praia é tão atrativa. Não consegui chegar a outro explicação nesses anos. Visto que cidades como Brasília, Sertãozinho e outras são cidades que possuem menor quantidade de atividade que o Rio de Janeiro.
ER: Até o início dos anos 80, muitos clubes, inclusive os de futebol, tinham escolinhas e equipes de patinação. O que aconteceu de lá para cá?
LA: Está uma ótima pergunta, e que não vou saber responder ao certo. Meu nascimento é da década de 80, só fui ter contato com os patins em 90. Mas pelo que já ouvi falar pelos grandes dinossauros da patinação, foi que a parte administrativa do esporte não conseguiu sustentar as mudanças que foram acontecendo em relação à atração e à regulamentação, juntamente com outros fatos relacionados à popularidade dos patins na década de 90 que não vem ao caso relatar. Acredito que foi uma série de acontecimentos, que hoje já não atrapalham mais. Só precisa ser cada vez mais ressurgido.
ER: E qual a situação da patinação no interior do estado do Rio?
LA: Apesar da internet estar aí para somar, ainda falta comunicação pelo desinteresse. Temos um centro de hóquei tradicional em Petrópolis, grupos de patinação radical em Volta Redonda e outras cidades menores. Em Niterói e Maricá o hóquei inline ganha força. Mas nada vai muito além disso. O importante é que não paramos de crescer.
ER: O que vai acontecer com os atletas da Patinação que foram despejados do antigo autódromo?
LA: Dentro do complexo do autódromo se encontra o velódromo, que até o mês passado era a "casa" dos patinadores de velocidade do Rio. Os atletas existiam antes da construção dele e continuarão a existir depois dele vir o chão. A tristeza fica pelo fato disso acontecer em seu maior auge, juntando a patinação a outras duas modalidades olímpicas que usavam o espaço. Todos se sentem sem teto.
ER: Você acha que a Patinação não é tão querida pelos orgãos governamentais por não ser um esporte olímpico?
LA: Nem acho que esse seja o problema. Hoje se vê vários esportes olímpicos que são jogados a sarjeta por tais órgãos. O descaso é demais. A verdade é que ainda não se vê esporte como algo de crescimento mental e físico. Futebol é ótimo para o bolso. Nada tem haver com a parte esportiva dessa modalidade. Para mim é assim que eles enxergam.
ER: A Patinação está na briga para se tornar um esporte olímpico em 2020. Tem chances contra Squash, Beisebol, Softbol e outros?
LA: A FIRS - "Federação Internacional de Esportes sobre Rodas", tem feito a sua parte para o ingresso da patinação. em 2016. A patinação de velocidade estava entre as 5 finalistas e obteve cerca de 90 % dos votos populares, que de nada contam. Acabou entrando o Golfe no lugar. Política monetária ridícula. Adoro Xadrez. Este é dito como esporte. Penso a mesma coisa do Golfe. Agora parece que a tentativa é da patinação Artística e torço para que dê certo. Esta pelo menos tem bem mais cultura aqui no Brasil. O jeito é esperar para ver.
ER: Como fazer para o esporte atrair mais gente?
LA: Acho que estamos conseguindo isso. O Brasil nunca teve cultura na patinação. Países vizinhos como Argentina e Colômbia estão anos-luz na nossa frente, mas vamos chegar lá. O segredo é popularizar. Tirar da mente das pessoas que não conhecem o esporte. O pensamento que é algo somente de criança ou de gay. O bom da patinação é que é democrático, para todos. O acesso ao material está cada vez melhor com marcas entrando no país e o desenvolvimento de material nacional. Agora é melhorar os locais de prática e usar a mídia.
ER: Gostaria de deixar um recado aos amantes da Patinação?
LA: Patinem! Além de a patinação fazer um imenso bem para a saúde mental, é uma atividade magnífica para o corpo. Espalhem a ideologia da patinação, cobrem aos governantes pelo seu espaço. E acima de tudo, se unam!